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O soccer, Pelé e o futuro do esporte nos Estados Unidos

Frustrando as perspectivas mais otimistas, não foi desta vez que a seleção norte-americana de futebol masculino conseguiu avançar de forma significativa na Copa do Mundo.

Derrotado pela Holanda nas oitavas de final, o Team USA começa, desde já, a pensar no ciclo para 2026, quando o time será, ao lado de México e Canadá, um dos anfitriões da competição organizada pela FIFA.

Resultado esportivo à parte, os norte-americanos, além de serem os torcedores que mais compram ingressos para a Copa, vêm, de fato, aumentando o interesse pelo soccer, que já é bastante popular entre as mulheres do país.

Em coluna publicada no dia 27/11/2022, o jornalista Guga Chacra, radicado nos Estados Unidos há bastante tempo, comentou:

Muitos norte-americanos adoram futebol. A audiência de jogos da seleção dos EUA supera as de partidas da NBA e da MLB (liga profissional de baseball). O New York Times dedica cinco páginas diárias na sua edição impressa para a cobertura da Copa do Mundo. Bares e restaurantes de Nova York e muitas outras cidades dos EUA instalam telões para os clientes. (…) A média de público no estádio do Atlanta United foi de 47 mil, que é igual à do Flamengo, time mais popular do Brasil. As médias de público da Major League Soccer e do Brasileirão também são equivalentes.

Não é de hoje que os norte-americanos acompanham Copa do Mundo. Esta é quinta vez que assisto um Mundial no país e todas as vezes a imprensa realizou ampla cobertura.

(…) Alguns podem argumentar que Nova York possui muitos estrangeiros e por isso haveria maior entusiasmo com a Copa. Outros podem dizer que são os latino-americanos. Ambas as afirmações são equivocadas. Duas das cidades onde o futebol é mais popular nos EUA são Kansas City e Seattle. A primeira não tem expressiva população estrangeira e nenhuma delas possui parcela grande de latino-americanos. Além disso, o futebol não é o esporte mais popular em alguns dos países da América Latina com maior número de imigrantes nos EUA – Cuba e República Dominicana –, além de Porto Rico, que é um território norte-americano. No time titular da seleção dos EUA, não há nenhum jogador de origem latino-americana. Mas alguns são sim filhos de imigrantes de outras partes do planeta, o que é comum no país.

Cada vez mais, nas ruas, é possível ver crianças nos EUA com camisas de times da Premier League, que é transmitida pela TV aberta, e do Messi no PSG. Ligas de futebol para crianças e adolescentes são mais comuns do que as de baseball e basquete – e bem mais do que as de futebol americano.

Na competição do Qatar, a Fox Sports registrou audiências de 15,4 milhões de espectadores na partida entre EUA x Inglaterra e de 12 milhões na partida entre EUA x Irã, dois jogos com pesada carga geopolítica.

Na vitória sobre o Irã, jogo que começou às 14h em grande parte do território norte-americano, faixa de horário em que muitos fãs do soccer estavam na escola ou no trabalho, o pico de audiência chegou a 15,6 milhões de pessoas.

No fim das contas, a audiência média das partidas dos EUA apenas na primeira fase da Copa do Mundo foi de 11,7 milhões de espectadores, superando facilmente no período, segundo Mike Mulvihill, executivo da Fox, a média de todos os programas de TV não vinculados à NFL.

Precisamos nos lembrar que, de alguma forma, todo esse movimento do “nosso futebol” ganhou impulso fundamental nos EUA com um outro personagem muito comentado nos últimos dias: o Rei Pelé, que vem enfrentando sérias complicações de saúde e que tem recebido mensagens de carinho de todos os cantos do mundo, inclusive do Qatar.

Em 1975, Pelé estreava pelo Cosmos oito meses após se aposentar com a camisa do Santos. A partida foi transmitida pela CBS para os Estados Unidos e mais 30 países, com 300 jornalistas fazendo a cobertura do jogo e uma audiência de 10 milhões de pessoas.

Aquele foi o primeiro passo para o que vemos hoje: as emissoras norte-americanas investem cerca de R$ 3,8 bilhões por ano nos direitos de transmissão da Premier League, de La Liga, da MLS, da Serie A e da Bundesliga.

Esse valor é 72% maior do que o valor pago pelos direitos de transmissão do futebol americano universitário e é substancialmente maior do que a quantia paga para transmitir a NHL, por exemplo.

Sim, o soccer ainda não consegue bater de frente com a NFL e com os principais eventos da NBA e da MLB, mas o crescimento do esporte no mercado norte-americano é consistente o bastante para suscitar algumas discussões.

Até que ponto, diante das polêmicas envolvendo as concussões, o fato de muitos pais norte-americanos estarem inclinados a colocar os filhos para praticar o soccer, e não o futebol americano, é uma real ameaça para a NFL?

Por ser o esporte mais popular do planeta e um jogo bem mais dinâmico do que o beisebol, as perspectivas do soccer não seriam muito mais amplas, no longo prazo, do que aquelas que se enxergam em relação à MLB?

Não seria o soccer uma atração capaz de unir, aos olhos do consumidor de esporte dos Estados Unidos, o apelo coletivo do futebol americano com o brilho individual oferecido pelas estrelas da NBA?

O que acontecerá se, digamos, Cristiano Ronaldo vier a jogar na MLS em breve, como já se especula que possa acontecer, “aquecendo as turbinas” dos Estados Unidos para a próxima Copa do Mundo?

Ainda não dá para afirmar que a hegemonia da bola oval e o avanço da NBA estejam com os dias contados no mercado norte-americano em virtude do potencial do soccer. Porém, ignorar os sinais de que essa hipótese não é mais um absurdo é ignorar uma realidade que vem se descortinando diante de nós desde que o maior jogador de todos os tempos resolveu escolher Nova Iorque para ampliar os limites de seu reinado.

Crédito imagem: Getty Images

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