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Um olho no Qatar, outro na FTX

Em todo o planeta, as atenções começam a se voltar para a Copa do Mundo disputada no Qatar.

Em meio às narrativas sobre quem ficará pelo caminho e quem poderá levantar a taça, há lugar para discussões acerca das violações de direitos humanos no país sede, das consequências jurídicas da proibição da venda de cerveja no entorno dos estádios, dos atletas naturalizados e dos jogadores históricos, como Messi e Cristiano Ronaldo, que,possivelmente, estarão em campo pela última vez por suas seleções.

E nos Estados Unidos? Qual é o clima em relação à Copa do Mundo?

No âmbito do “campo e bola”, pairam dúvidas sobre as reais chances do Team USA na competição. Há, porém, quem esteja otimista. Em coluna publicada no dia 18/11/2022, a jornalista Kirsten Flemingpropôs a seguinte reflexão:

As pessoas se perguntam por que um país que produziu grandes nomes em outros esportes, como LeBron James e Tom Brady, não pôde fazer o mesmo [no soccer]. Muitos culparam a relativa falta de dinheiro (…) ou disseram que os americanos simplesmente acham o jogo muito lento e com poucos gols.

Mas as razões para a falta de grandeza no futebol masculino dos Estados Unidos são muito mais complexas (…), de acordo com o escritor George Dohrmann. No livro ‘Switching Fields: Inside theFight to Remake Men’s Soccer in the United States’, o vencedor do Pulitzer (…) explora como uma nação ferozmente competitiva (…) só mudou sua sorte nos últimos anos quando finalmente rasgou seu manual e abraçou o modelo internacional. (…)

A Major League Soccer teve sua temporada inaugural em 1996. Os 10 times recrutaram principalmente jogadores universitários ou, nas temporadas seguintes, grandes jogadores europeus no crepúsculo de suas carreiras, como David Beckham, Thierry Henry e David Villa. Isso trouxe algumas manchetes e fãs curiosos, mas fez pouco para elevar o nível do jogo.

O maior avanço veio (…) quando os times da MLS começaram a criar suas próprias academias de desenvolvimento, semelhantes aos times da liga secundária no beisebol. A maioria dos clubes internacionais usa esse modelo para cultivar e investir em jovens talentos.

Como resultado, times como New York Red Bulls, Philadelphia Union e FC Dallas desenvolveram grandes talentos que foram vendidos para importantes clubes europeus. Aaronson, nativo de Nova Jersey, surgiu nas academias do Philadelphia Union e, em 2022, foi vendido para o Leeds United em uma transferência no valor de US$ 30,2 milhões. Quando esses jogadores voltaram para jogar pela seleção norte-americana, trouxeram consigo uma valiosa experiência jogando ao lado dos melhores do mundo.

(…) ironicamente, à medida em que o futebol masculino (…) está em ascensão, as mulheres americanas – há muito dominantes no esporte – estão começando a perder a vantagem. (…) Clubes europeus como Lyon e Barcelona estão agora produzindo as melhores jogadoras de futebol. A seleção feminina dos Estados Unidos terá que fazer investimentos significativos no mercado interno para se manter no topo.

Expectativas para a Copa do Mundo à parte, o soccer, nos últimos dias, acabou dividindo espaço no noticiário norte-americano com nomes consagrados de outros esportes. Mas não exatamente por feitos esportivos.

Isso porque, ao lado do já citado Tom Brady, os astros Stephen Curry, Shaquille O’Neal, David Ortiz(ícone do Boston Red Sox) e Shohei Ohtani (do Los Angeles Angels), dentre outros famosos, viram-seenvolvidos em uma ação judicial coletiva em decorrência da quebra da FTX, segunda maior plataforma de criptomoedas do mundo, que chegou a ser uma das anunciantes na última edição do Super Bowl.

Além desses atletas, os impactos foram sentidos também por franquias da NBA, como o Miami Heat(a FTX detinha os naming rights da arena utilizada pela equipe, pelos quais pagou US$ 135 milhões por 19 anos) e o Golden State Warriors (que suspendeu o acordo comercial de US$ 10 milhões até então mantido com a plataforma).

A Major League Baseball foi outra entidade esportiva fortemente atingida, já que a FTX estampava a sua marca nos uniformes dos árbitros e era anunciada como a marca oficial de câmbio de criptomoedasda liga.

Uma vez evidenciada a real situação da FTX e a crise de liquidez da plataforma de criptomoedas com maior presença em ativos esportivos, “abandonar o navio” tornou-se inevitável.

Tom Brady, por exemplo, um dos mais proeminentes garotos-propaganda da ex-gigante do universo cripto, que fora remunerado com ações da empresa e em criptomoedas, rapidamente limpou as menções à FTX de suas redes sociais.

Stephen Curry, que, igualmente, tornara-seembaixador global da plataforma em contrapartida a uma participação acionária, vem agindo para desvencilhar sua imagem da imagem de Sam Bankman-Fried, que renunciou ao cargo de CEO da companhia.

Apesar desses esforços, Brady, Curry e os demais esportistas de algum modo vinculados à FTX terão de se defender na ação coletiva que aponta que “os autores/consumidores foram prejudicados pelas práticas desleais e enganosas dos réus”.

A FTX alardeava a simplicidade de sua plataforma para negociar criptomoedas e muitas das campanhas publicitárias com estrelas do esporte focavam em tal aspecto, sem, no entanto, explicar os riscos desse tipo de investimento.

No processo, sustenta-se que os réus teriamcontrolado, promovido, ajudado e participado ativamente” de um esquema de comercialização agressivada FTX, que, supostamente, estaria usando os recursos de seus clientes em benefício deuma outra empresa de Sam Bankman-Fried, a Alameda Research.

Edwin Garrison, investidor que encabeça a ação coletiva, alega que a plataforma “foi projetada para tirar proveito de investidores não sofisticados de todo o país”.

O pedido de indenização tem o valor de US$ 11 bilhões e a FTX também está sendo investigada pela Comissão de Valores Mobiliários e pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos.

O caso FTX suscita debates interessantes.

Qual é o limite da responsabilidade de atletas que,em troca de participação societária, associam sua imagem a uma marca?

Na era da monetização da fama, que discutimos em texto anterior da coluna, esses atletas precisam, daqui em diante, ter sempre o cuidado de apresentar disclaimers para que não venham a ser responsabilizados por consumidores de produtos e serviços com base em uma espécie de “teoria da aparência”?

Ao se tornarem anunciantes de determinadas marcas, é razoável exigir que figuras públicas sejam, automaticamente, alçadas à posição de “fiadoras universais” dessas marcas e dos valores que elas propagam?

Pense nisso enquanto estiver vendo as propagandas nos intervalos dos jogos da Copa do Mundo e venha debater conosco!

Crédito imagem: FTX

Nos siga nas redes sociais: @leiemcampo

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