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Prenda-o se for capaz!

Em coluna publicada no mês de abril de 2023, discutimos se o fato de Lamar Jackson, quarterback do Baltimore Ravens, não possuir um agente poderia ser uma das principais razões a justificar o impasse contratual pelo qual o atleta passava naquele momento.

Essa era a teoria mais difundida na mídia, como ilustrava uma matéria da Sports Illustrated intitulada “Lamar Jackson não tem agente e isso está acabando com sua carreira”, escrita pelo jornalista Timm Hamm.

De lá para cá, muita coisa mudou. Ainda no final daquele mês, o jogador assinou um contrato de cinco anos por US$ 260 milhões, com um salário médio anual de US$ 52 milhões, bônus de assinatura de mais de US$ 72 milhões e US$ 135 milhões totalmente garantidos, que ele receberá mesmo se não cumprir o acordo.

O caso de Lamar Jackson, obviamente, é uma exceção. Na ocasião, sustentei o seguinte:

As dinâmicas contratuais e salariais das ligas esportivas norte-americanas são extremamente intricadas. Não é à toa que existem especialistas em salary cap e, no caso do basquete, eventos como a Tulane Professional Basketball Negotiation Competition, um encontro anual dos especialistas em teto salarial da NBA que dá a alunos de dezenas de Faculdades de Direito dos Estados Unidos a oportunidade de demonstrarem habilidades de negociação e o domínio das regras (…).

Mais complexas do que as normas que ditam como o dinheiro pode ser gasto na NFL, na NBA, na NHL e na MLB, no entanto, são as relações humanas.

Além de absorver, em lugar do atleta, a carga emocional dos inevitáveis embates de uma negociação, um bom agente é capaz de entender de que maneira a imagem de seu cliente pode ser preservada perante o público e perante as marcas, conseguindo, com isso, gerar oportunidades que valorizem adequadamente os ativos que um jogador de alto nível [possui].

De fato, contar com os serviços de um agente devidamente qualificado é um diferencial competitivo nos esportes de alto rendimento, algo que potencializa as chances de ganhos esportivos e financeiros de um atleta.

Mas e quando um agente atua contra os interesses de seu cliente, inclusive agindo ilicitamente?

Pois é. Isso acontece mesmo em um ambiente maduro como o universo das ligas esportivas profissionais dos Estados Unidos.

Recentemente, foi noticiado que Calvin Darden Jr., um empresário radicado no estado da Geórgia, foi condenado por um júri federal de Manhattan após acusações feitas por Dwight Howard e Chandler Parsons, ex-jogadores da NBA.

O total dos prejuízos causados a esses atletas foi de US$ 8 milhões.

Darden Jr. foi considerado culpado por fraude, fraude bancária, lavagem de dinheiro e duas diferentes imputações de conspiração. Além dos crimes cometidos por conta própria, ele agiu em conjunto com Charles Briscoe, ex-agente de atletas da NBA, que se declarara culpado ainda em 2023.

No que se refere a Dwight Howard, o principal nome envolvido no caso, os promotores responsáveis apresentaram evidências de que o pivô enviou a Darden Jr. US$ 7 milhões para que fosse feito um suposto investimento na aquisição de participação societária no Atlanta Dream, franquia da WNBA. Essa operação, porém, nunca existiu.

Dwight Howard, que testemunhou durante o julgamento, contou recentemente em um episódio de seu podcast Above the Rim With DH12:

Montamos esse pequeno grupo [de investidores]. Na época, a NBA disse que eu não poderia ser o dono do time por completo, pois eu ainda estava jogando. Eu pensei, ‘OK, (…) então eu poderia estar nos bastidores tomando todas as decisões e coisas assim. O golpe foi tão elaborado que até falei com o General Manager e com os donos do time. Porém, [os golpistas] pegaram a grana e eu nunca mais ouvi falar deles. (…) Levei um ‘tapa na cara’.

O real destino do dinheiro? Dos US$ 7 milhões, Darden Jr. utilizou US$ 6,1 milhões para comprar carros, US$ 400.000 na aquisição de criptomoedas, US$ 110.000 para arrematar um piano, US$ 90.000 em relógios de luxo e mais um pouco em benfeitorias de uma casa avaliada em US$ 3,7 milhões na cidade de Atlanta.

Já Chandler Parsons foi ludibriado por meio de um alegado investimento na carreira de James Wiseman, hoje no Detroit Pistons e então a segunda escolha geral no Draft da NBA.

Também condenado por um esquema fraudulento em 2016, Darden Jr. deve cumprir pena de 11 a 14 anos.

Briscoe, que não representa clientes na NBA desde 2022, também está sendo processado no tribunal estadual de Delaware por utilizar procurações falsas na tentativa de angariar recursos destinados a financiar um novo empreendimento na área de agenciamento esportivo.

A identificação dos crimes praticados por Darden Jr. e Charles Briscoe é parte de uma investigação mais ampla, que constatou a existência de crimes no valor total de US$ 13 milhões contra outras vítimas, como o armador Jrue Holiday, hoje no Boston Celtics.

Em 2005, Darden Jr. fora o personagem de uma matéria no New York Times sob o título “Prenda-o se for capaz”, em alusão ao filme dirigido por Steven Spielberg e estrelado por Leonardo DiCaprio e Tom Hanks, que conta as peripécias do golpista Frank Abagnale Jr.

Charles Briscoe, pelo que consta dos autos, diz acordar arrependido todos os dias.

Evidentemente, agentes e consultores financeiros são pessoas nas quais os atletas devem ter absoluta confiança. No jogo da vida, saber em quem confiar é mais importante do que marcar touchdowns ou pontos.

Crédito imagem: Getty Images

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