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Roger tem razão, racismo existe também no futebol. E tem piorado

As pessoas têm dificuldade em enxergar preconceito – lógico que aqui me refiro as pessoas que não são atingidas por ele. Por isso existe uma grande tendência das pessoas de diminuir, contemporizar, colocar na conta da “brincadeira’. Uma lição básica: preconceito existe quando atinge alguém que sofre com um determinado comportamento, que sente a força de uma postura carregada de preconceito.

Até o popular futebol sofre com o preconceito. Homofobia, e até racismo. O futebol de Pelé, Garrincha, Nilton Santos e Ronaldinho ainda é pouco representado por negros fora do campo. Não existe presidente  negro na série A, e são apenas dois técnicos. O preconceito também se manifesta nessa falta de representatividade. E nas manifestações de injúria racial que têm crescido no esporte segundo dados do Observatório da Discriminação Racial.

Por isso a manifestação de Roger, técnico do Bahia, ganha importância. Um negro do futebol repete o que Gilberto Freyre, Darcy Ribeiro já colocaram os livros. A democracia das raças é uma falácia, inclusive no futebol.

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É importante entender que a sociedade evolui, e o esporte não pode ficar preso a costumes discriminatórios. Ele precisa evoluir e integrar, aproximar e acolher a todos. A Justiça Esportiva, através do presidente Paulo César Salomão Filho, sabe disso, e não deve permitir mais comportamentos discriminatórios. Para isso, ganhou um aliado.

O novo Código Disciplinar da FIFA, uma espécie de lei do futebol, aumentou o cerco do combate ao preconceito no futebol. Apesar de mais enxuto, ele está mais completo e moderno. Ele reforça uma preocupação necessária do movimento esportivo, o combate a todo tipo de preconceito.

Ivana Negrão ouviu especialistas sobre o assunto, e conta como o racismo tem crescido no futebol e o que o movimento esportivo esta preparando para combater esse problema.


 

Marcão e Roger Machado. Fluminense e Bahia. Quebra de paradigmas no futebol brasileiro

Nesta semana, Porto Alegre será o palco de encontros importantes no combate ao racismo. O Observatório da Discriminação Racial no Futebol, que acompanha casos de injúria e promove ações afirmativas no esporte, tem reunião agendada com o Ministério Público do Rio Grande do Sul para a viabilização de campanhas educacionais e de combate à discriminação.

Paulo Salomão Filho, presidente do Superior Tribunal de Justiça Desportiva, também informou ao Lei em Campo, neste domingo (13), que estará na capital gaúcha durante a semana para “uma reunião sobre este tema”.

É que o primeiro encontro de dois técnicos negros no comando de equipes da Série A do Campeonato Brasileiro está dando o que falar. No sábado, Marcão dirigiu o Fluminense na vitória sobre o Bahia de Roger Machado por 2 a 0.

“Eles quebraram o silêncio. E ambos falavam sobre isso antes do jogo, aceitaram vestir a camisa, sob os olhares do mundo. Mais do que falar, eles se posicionaram. Não contemporizaram, não fugiram. Eles afirmaram e reafirmaram o problema que o Brasil tem, que é a questão do racismo”, comemorou Marcelo Carvalho, pesquisador e mentor do Observatório da Discriminação Racial no Futebol.

A organização provocou a ação de conscientização pelas redes sociais e os clubes e técnicos aceitaram a proposta. “Não deveria chamar atenção, ter repercussão grande, dois treinadores negros na área técnica, depois de serem protagonistas dentro do campo. Essa é a prova que existe o preconceito, porque é algo que chama atenção”, declarou Roger Machado em coletiva após o jogo.

O Observatório do Racismo monitora e contabiliza casos de injúria racial no futebol brasileiro desde 2014. Nos últimos anos, os números só crescem. Em 2017, foram 43 registros. Em 2018, 44. Esse ano, já são 41 episódios. “Eu acreditava muito que o futebol era um espaço democrático. Um espaço capaz de dar oportunidades iguais a todas as pessoas. E, a partir do momento em que o Observatório do Racismo começou o trabalho, a gente passou a perceber que isso é uma falácia. Os incidentes, como eu costumo chamar os casos de ofensas raciais, são apenas a ponta do iceberg”, afirmou Marcelo Carvalho.

Por isso que Roger Machado decidiu falar tão abertamente sobre o tema e destacou o que chamou de racismo estrutural, com a ausência de negros na gestão do futebol brasileiro.

“O maior preconceito que eu senti não foi de injúria. Eu sinto que há racismo quando eu vou no restaurante e só tem eu de negro. Na faculdade que eu fiz, só tinha eu de negro. Isso é a prova para mim. Mas, mesmo assim, rapidamente, quando a gente fala isso, ainda tentam dizer: “Não há racismo, está vendo? Vocês está aqui”. Não, eu sou a prova de que há racismo porque eu estou aqui”, declarou o técnico.

Ao mesmo tempo que o aumento de casos de injúria racial demonstra e comprova a gravidade da questão, ele também reflete a conscientização de torcedores, jogadores e árbitros. Quando ofendidos, eles não silenciam mais. Não aceitam que tal atitude seja “normal” e denunciam.

Tal possibilidade ganhou força depois que a FIFA endureceu as regras para o combate à discriminação no futebol, dando, inclusive, poder ao árbitro de suspender uma partida no caso de qualquer ação que fira a integridade do outro, dentro de campo ou vindo da arquibancada.

“A gente precisa trabalhar para educar a sociedade e o esporte é um importante instrumento para isso. Se em algum momento a sociedade fingia que o futebol era exemplo de democracia racial, isso começou a ser quebrado com os incidentes, cada vez mais recorrentes. O posicionamento dos dois técnicos mostrou que existem sim vozes que vão se levantar cada vez mais contra o racismo”, finaliza Marcelo Carvalho.

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