Muito antigamente, a única forma de acompanhar futebol era indo a campo, ou através das notícias nos jornais, no dia seguinte. Com a tecnologia, as limitações vêm diminuindo e a interação evoluindo. Por outro lado, é preciso estar atento para não perder esse público.
“Hoje competimos pelo tempo, pela atenção dos jovens. Os ritos de passagem de muitas gerações relacionados ao dia em que o pai levava o filho ao campo e, qualquer que fosse a equipe, esse seria seu time do coração, não acontece mais. Não porque os jovens não estejam interessados no futebol, mas porque a oferta é mais ampla por meio da conectividade. Eles podem fazer muitas outras coisas na vida: eles podem navegar, eles podem interagir nas redes sociais”, avalia Peter Moore, CEO do Liverpool FC e uma lenda do marketing mundial.
Em razão desta filosofia, o clube inglês acaba de lançar um plano de investimento para “conversar” e chamar a atenção dos seus fãs espalhados por todo o mundo. “Não é possível atingir 771 milhões de pessoas sem tecnologia”, afirmou Moore ao anunciar a intenção de aplicar cerca de 16 milhões de libras na reconstrução de todas as plataformas móveis e digitais do clube e atendimento ao cliente nos próximos três anos. O objetivo é agregar valor às experiências dos fãs.
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“No futebol especialmente, times e campeonatos estão tentando ampliar a participação dos torcedores com medidas mais interativas, transformando o esporte em algo mais atraente para o público, que é um consumidor”, analisa Juliana Avezum, advogada especialista em direito esportivo e propriedade intelectual.
Mais do que um jogo, futebol sempre foi espetáculo, entretenimento. E com a tecnologia, está se tornando algo maior, gerando fama, identificação, mais interesse e, consequentemente, mais investimentos.
Na atual campanha, o Liverpool utiliza uma narrativa sustentada por cinco valores para transmitir a sua mensagem. “Ouse sonhar. Tome uma posição. Venha junto. Viva, aprenda, prospere. E pense novamente”. O foco principal do clube é o mercado asiático.
“Estamos considerando novos ângulos para as câmeras. Algo que transporte o fã para o campo de jogo de uma maneira mais próxima, com o conceito de visão verdadeira. Esse é o objetivo. Permitir que os telespectadores interajam e se divirtam. Você tem que pescar onde estão os peixes. Caso contrário, você não os tirará de seus quartos: eles preferem assistir seus youtubers favoritos”, acrescenta Peter Moore.
Juliana Avezum alerta para as questões éticas, contratuais e de direitos. Pontos que eventualmente podem dar problema dizem respeito aos direitos de imagens dos atletas e até de torcedores. Todas as ações precisam estar devidamente acordadas.
Tanto que o clube inglês teve um imprevisto jurídico em seus planos ousados, quando o pedido de registro de marca da palavra Liverpool foi negado pelo Escritório de Propriedade Intelectual da Inglaterra. Diferentemente do Chelsea e do Tottenham, que conseguiram a licença porque seus nomes não têm “significado geográfico”.
O Spirit Of Shanklay (SOS), sindicato não oficial de torcedores do Liverpool F.C. saiu em defesa da decisão. “O nome pertence à cidade de Liverpool e seu povo. Todos devemos ter permissão para usá-lo livremente, como bem entendermos, sem medo de que cartas legais entrem por nossas portas”.
As regras de propriedade intelectual diferem de um país para um outro. “Aqui no Brasil é uma questão delicada. Tem algumas limitações, mas o nome de cidade pode ser registrado, como é o do São Paulo Futebol Clube”, explica Juliana Avezum. O registro é feito numa classe específica e o nome não pode ser usado com exclusividade. “Não pode engessar, garantir uso exclusivo de algumas expressões. E essa regra não vale só pra nome da cidade. Não é possível se apropriar com exclusividade de qualquer palavra de uso necessário para uma atividade específica”, completa Juliana.
O Liverpool acatou a decisão, apesar de lamentá-la. E aproveitou para agradecer o apoio dos comerciantes e dos clubes de futebol locais. Peter Moore ainda que “o clube significa muito para muitas pessoas que não tiveram a oportunidade de ter algo melhor na vida do que o amor pelo Liverpool. Durante algum tempo, os Beatles foram o símbolo da cidade. Agora é o futebol”.
E completa: “Um clube de futebol produz benefícios a longo prazo. Talvez os proprietários do Liverpool esperem 10 ou 20 anos para lucrar com o clube. Até lá, só aplicam os lucros, investem. Isso se chama paciência. Cuide de seus ativos, continue, e certamente boas coisas acontecerão. Se você compra bons jogadores, aprimora o time. Se aprimora o time, ganha títulos. Se ganha títulos, aumenta sua renda. É o círculo virtuoso clássico”.