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Vitalício até deixar de ser: A tendência contemporânea nos contratos de patrocínio dos esportes individuais

Luiza Rosa Moreira de Castilho[i]

A vitaliciedade atribui caráter permanente ao contrato, indicando que as partes ficam comprometidas entre si, sem uma data predefinida para o término. Em resumo, é para a vida toda.

No início do ano, uma das notícias que abalou o mercado esportivo foi o rompimento contratual entre Tiger Woods e Nike, revelando que, apesar de aparentemente vitalício, o contrato teve data para terminar.

Em teoria, a Nike mantém apenas 5 contratos permanentes pelo mundo: Michael Jordan, Ronaldo, Lebron James, Cristiano Ronaldo e Kevin Durant – vale a leitura do irretocável texto[ii] de Daniel Portilho. E, embora pareça que a marca dispõe de um padrão entre basquetebolistas e Ronaldos, o contrato de Tiger Woods, ao menos para a imprensa, era tratado como vitalício.

Pouco tempo após o término da parceria icônica, Tiger Woods lançou sua própria marca, a Sun Day Red, tendo como palco o torneio Genesis Invitational.

Em 27 anos de acordo, diversas situações, positivas e negativas, permearam a relação negocial. Contudo, o que se destaca dentre tantas nuances é o comportamento das marcas diante do mercado e, especialmente, de uma geração consumidora de mídia.

E, no contexto esportivo, a situação se torna mais complexa. Nota-se, nos contratos vitalícios da Nike, uma afinidade peculiar: todos são atletas de esportes coletivos. Ainda que possa soar como mera coincidência, é admissível considerar que os esportes coletivos tenham um apelo superior aos individuais.

Os conteúdos difundidos pelos esportes coletivos têm se tornado gradualmente menos conservadores, enquanto muitos dos esportes individuais ainda estão presos a tradições, que resultam em um público espectador mais nichado. Diferença que pode, também, ser estratégica.

As consequências de se ter uma comunidade específica é a necessidade de se dobrar o estímulo e o entretenimento. É um jogo duplo para manter o interesse.

De acordo com as notícias da época, a Nike perdeu Roger Federer para a UniQlo após 18 anos de contrato, devido ao comodismo. A marca, que já havia vestido Novak Djokovic, não apenas incorporou a logo RF em seu portfólio, mas também abriu caminho para um futuro eventual contrato entre Federer e uma empresa de calçados.

A transição fortaleceu, consideravelmente, a receita do tenista e representou uma ruptura significativa, já que o maior da história do tênis rescindiu com uma das principais marcas envolvidas na modalidade, para assinar com a empresa japonesa, motivado pelo comprometimento da marca com sua carreira e pós-carreira.

Contratos vitalícios ou que vão se renovando periodicamente geralmente são firmados no alvorecer da carreira do atleta, como uma aposta em seu potencial esportivo. Enquanto alguns desses palpites se mostram bem-sucedidos, outros não alcançam êxito, ou sucumbem ao vencimento de sua validade.

A Nike serve como exemplo emblemático desse quadro atual, mas os atletas de elite não devem ser os únicos a protagonizar o texto. Seja qual for a designação conferida ao atleta – Top 10, Big 3, GOAT – as negociações se desdobram de maneira distinta dos demais.

Mesmo obtendo resultados expressivos, um atleta de esporte individual enfrenta dificuldades em lograr contratos vantajosos, especialmente se não ostentar o título de “promessa” ou atingir uma posição entre os melhores até certo ponto de sua carreira. Contratos vitalícios, então, tornam-se ainda mais elusivos.

O atleta Paulo André Camilo, apesar de suas diversas conquistas e de ter sido semifinalista nos 100m rasos nos Jogos Olímpicos de 2020, tornou-se embaixador da Nike somente após participar do reality Big Brother Brasil. Podem levantar a bandeira do acaso, não acredito que seja.

Para flertar cada vez mais com o público, as marcas precisam desenvolver campanhas que estabeleçam identificação com a audiência e promovam o desejo de fazer parte da comunidade representada pelo atleta que carrega a marca estampada. Isso exige que o atleta dedique tempo para atender às necessidades da marca, ao mesmo passo em que mantém ou eleva seu próprio status esportivo.

Antigamente, conhecia-se as características pessoais dos atletas por meio de matérias televisivas específicas ou notícias pontuais. O caminho para contornar os desvios era menos obstaculizado, e a estima era medida pelos feitos relevantes no esporte.

Atualmente, não basta ser o maior de todos os tempos dentro de campo, pista, quadra, ou qualquer outra superfície. A visibilidade requer uma popularidade além do esporte, e essa notoriedade é construída (ou destruída) a todo minuto nas redes sociais.

Contratos vitalícios baseados no renome são, indubitavelmente, arriscados para ambas as partes. Para o atleta, há o risco de manter um contrato que não agrega valor, sendo potencialmente deixado de lado por uma marca que está sempre em busca da próxima estrela. Para a marca, o perigo de desembolsar milhões para rescindir um acordo que já não atende mais aos seus interesses.

Nessa toada, as marcas têm priorizado vincular seus nomes a atletas que claramente estão no auge de suas carreiras, estabelecendo contratos de curta ou média duração. Essa estratégia, em tese, visa proteger os interessas da empresa, permitindo uma espécie de reavaliação constante das parcerias para garantir certa sinergia com os atletas em destaque. Isso também mantém uma associação dinâmica, que evita compromissos que possam não refletir as rápidas e imprevisíveis mudanças no cenário esportivo.

De outro lado, os atletas, que frequentemente enfrentam a escassez de oportunidades para firmar parcerias com marcas consolidadas, optam por contratos de curta duração junto a empresas ainda em ascensão, muitas vezes recebendo compensações simbólicas.

No esporte individual, portanto, a esperança do atleta reside na capacidade de cultivar uma imagem positiva perante o público, mantendo uma presença cativante tanto dentro quanto fora do campo. A conexão com a audiência, mesmo em modalidades menos aclamadas, torna-se vital para fortalecer as chances do atleta em receber oportunidades.

Vale frisar que atletas bem orientados vislumbram oportunidades mais promissoras ao longo de suas carreiras e após o término destas, consolidando um legado que transcende o campo esportivo.

Na dinâmica mercadológica, a tendência é voltar a atenção para o desempenho do atleta em competições em conjunto com sua imagem nos bastidores. O que ele representa fora do campo, suas associações com outras marcas e sua conduta nas redes sociais, desempenham papéis importantes. Isso não implica, necessariamente, uma presença constante e ativa nas mídias, mas destaca a relevância de, pontualmente, oferecer ao público um panorama de seu cotidiano. Embora desafiadora, essa abordagem revela-se fundamental.

Para uma parceria sustentável, é preciso treinar, ganhar, entregar, engajar e, ainda, sorrir!

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[i] Advogada. Diplomada em Gênero e Esporte pela Universidad de Buenos Aires e Gestão Esportiva pela CONMEBOL. Pós-graduada em Compliance e Gestão de Riscos pela Faculdade Pólis Civitas. Especialista em Compliance no Futebol pela CBF Academy. Procuradora na 6ª Comissão Disciplinar do STJD do Futebol. Presidente da ALL Esportes Brasil. Secretária da Comissão de Direito Desportivo da OAB/PR. Membro do Grupo de Estudos de Direito Desportivo do IBDD. Membro filiado do IBDD.

[ii] https://leiemcampo.com.br/um-contrato-para-a-vida-inteira/

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