Ocorre neste final de semana, entre os dias 17 e 19 de fevereiro, na cidade de Salt Lake City (Utah), o All-Star Weekend da NBA.
No ano de 2023, a atração destinada a reunir as principais estrelas da liga coincide, no Brasil, com as festividades do Carnaval. E, assim como nas celebrações carnavalescas, a descontração é um aspecto marcante do evento.
Quem ligar a TV ou acessar os aplicativos para acompanhar o All-Star Weekend verá jogadas de efeito, provocações entre os atletas e um clima bem mais amistoso do que aquele que tomará as quadras em alguns meses, quando começarem os playoffs.
O ambiente é tão leve que, perguntado em entrevista sobre o que o deixava mais ansioso em relação ao Jogo das Estrelas, a sensação Luka Doncic respondeu que era a possibilidade de viajar para o México após a partida, para aproveitar a breve pausa da qual os atletas disfrutam após o All-Star Weekend.
O primeiro Jogo das Estrelas da NBA ocorreu há mais de 70 anos. De lá para cá, a presença dele no calendário deixou de ser apenas uma tradição para se tornar um cartão de visitas para novos fãs, que são apresentados, sem moderação, a uma das facetas que melhor definem o que é a liga: o entretenimento.
Não é à toa que 35 patrocinadores estarão envolvidos nas ativações e campanhas comerciais, que vão desde a comercialização de itens mais comuns, como bonés e souvenirs, até demonstrações de novas tecnologias, como headsets de realidade virtual e sistemas de digitalização que criam avatares dos fãs.
Embora o Jogo das Estrelas seja um dos melhores palcos para demonstrar a constante capacidade de inovação da NBA (o Portland Trail Blazers, por exemplo, acabou de anunciar que fará transmissões utilizando uma tecnologia de rastreamento óptico que permite visualizar, em tempo real, gráficos e informações estatísticas dos atletas), o evento serve também como plataforma para divulgar ações sociais promovidas pela liga.
A par dos torneios de enterradas e arremessos de 3 pontos e dos duelos entre os jogadores que têm tido mais destaque na temporada, a NBA promoverá a inauguração de um centro comunitário em uma escola primária local, além de um jogo entre alunos de universidades historicamente ligadas à população negra e da doação de recursos a uma entidade que financia pesquisas sobre câncer, a qual é parceira da franquia anfitriã, o Utah Jazz.
O All-Star Weekend, enfim, é sinônimo de festa, progresso e bons valores (financeiros e morais). Mas você sabia que o surgimento do Jogo das Estrelas está ligado à tão temida manipulação de resultados?
Como assim?!
Isso mesmo! Por mais surpreendente e curioso que isso possa ser, a verdade é que a NBA concebeu a atração, que já existia na MLB (liga de beisebol) desde 1933, no intuito de retomar a atenção e a admiração do público, que se afastara dos ginásios depois de um escândalo no basquete universitário.
Descobriu-se, à época, que mais de 30 jogadores espalhados por 7 equipes (New York University, Long Island University, Manhattan College, Bradley University, University of Kentucky, University of Toledo e City College of New York, campeão da NCAA) estavam envolvidos com o crime organizado, recebendo dinheiro para interferir ilicitamente nos resultados de partidas que eram objeto de apostas.
Se em março de 1951, quando teve lugar a primeira edição do Jogo das Estrelas, a NBA lutava por reconhecimento e validação, a posição que a liga ocupa no mercado é, hoje, bem diferente.
A recente venda do Phoenix Suns pelo valor recorde de US$ 4 bilhões depois do afastamento do ex-proprietário Robert Sarver prova que a NBA e suas franquias nunca valeram tanto, como apontamos em texto anterior desta coluna.
Essa valorização, em grande medida, decorre das enormes cifras pagas pelos detentores dos direitos de transmissão e da expectativa de que tal montante crescerá ainda mais a partir da temporada 2025/26, quando um novo acordo comercial deverá ser assinado com algum (ou alguns) dos gigantes conglomerados de mídia do mundo.
A propósito, na rodada que antecedeu a paralisação da liga para a realização do All-Star Weekend, apenas um dia antes do início deste, diversos atletas foram poupados. Porém, a contusão de um dos principais nomes da NBA, Giannis Antetokounmpo, capitão do time das estrelas da Conferência Leste, suscitou a questão: era mesmo .necessário disputar partidas da temporada regular às vésperas do Jogo das Estrelas.
A resposta está, justamente, nos compromissos contratuais com as redes de televisão, já que a Warner Bros paga uma fortuna para transmitir, nas noites de quinta-feira, o chamado doubleheader, com duas partidas em sequência veiculadas pela TNT em horário nobre para os norte-americanos.
Neste ano, a rodada dupla teve o Milwaukee Bucks, de Giannis, enfrentando e derrotando o Chicago Bulls, além do Los Angeles Clippers, que visitou e venceu o já citado Phoenix Suns, nova casa do astro Kevin Durant.
Chicago e Los Angeles estão entre os maiores mercados da NBA, o Bulls é uma das franquias mais populares no exterior e Antetokounmpo é um dos prodígios do esporte mundial.
Em suma, uma vez assinados os contratos, é preciso respeitar os interesses comerciais e entregar o melhor produto possível a quem paga caro para ser parceiro de mídia da liga.
É assim que a roda gira já há muitos carnavais…
Crédito imagem: NBA
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Daniel Alexandre Portilho Jardim é graduado em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais, Master of Laws (LL.M) em Direito Empresarial pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), membro da Comissão de Direito Desportivo da OAB/MG, especialista em Negócios no Esporte e Direito Desportivo e professor do MBA em Negócios no Esporte e Direito Desportivo do Centro de Estudos em Direito e Negócios (CEDIN), onde ministra a disciplina “Modelo de negócios das ligas esportivas norte-americanas”. É também sócio-fundador do Lage e Portilho Jardim Advocacia e Consultoria (www.lageportilhojardim.com.br) e editor-chefe do blog Negócios no Esporte (www.negociosnoesporte.com).