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Como a Copa do Mundo e as mudanças de regra na MLB podem ajudar a recuperar a popularidade do beisebol

O beisebol já foi conhecido como o passatempo favorito dos norte-americanos. De fato, até a década de 1960, ele era o esporte mais popular nos Estados Unidos, tendo perdido o posto para o futebol americano já há algumas décadas e tendo sido ultrapassado, mais recentemente, também pelo basquete.

E o que explica essa queda de popularidade?

Muitos apontam que a longa duração das partidas (uma média 3h30 a 4h) não faz sentido em uma sociedade pautada pelo imediatismo e pela preferência por um consumo mais “descartável”.

Outros sugerem que o beisebol é um jogo monótono, especialmente para as novas gerações e em comparação com a grande quantidade de highlights e comemorações exacerbadas que se veem na NFL e na NBA.

Com efeito, é difícil que a carga dramática do duelo entre o arremessador e o rebatedor seja suficientemente atraente nesta era da economia da atenção, em que, estima-se, as pessoas da chamada Geração Z conseguem se concentrar em algo, efetivamente, por apenas 8 segundos.

Buscando endereçar o tema do declínio de popularidade, a Major League Baseball (MLB) já vinha testando novas regras em suas competições secundárias. E, a partir da temporada de 2023, algumas dessas regras serão implementadas na principal liga dos Estados Unidos.

A maior parte das novidades tem como objetivo, justamente, reduzir o tempo das partidas e tornar o jogo mais dinâmico.

A primeira delas, e talvez a mais significativa, é relacionada ao tempo para o lançador efetuar o arremesso. Se não existia limite até a temporada passada, agora haverá uma contagem de até 15 segundos caso as bases estejam vazias e de 20 segundos caso um jogador esteja em alguma das bases.

Além disso, o arremessador terá 30 segundos para arremessar entre duelos, ou seja, quando houver mudança de rebatedor. Caso o tempo máximo não seja respeitado pelo arremessador, será contabilizada uma “bola” no duelo; se o culpado pela demora for o rebatedor, por não estar posicionado da forma correta para a rebatida, será contabilizado um “strike” no duelo.

Completando tal regra, foi imposta uma limitação, por duelo, de dois “pick offs” (quando o arremessador tenta eliminar um corredor em base).

Outra mudança relevante envolve o tamanho das bases. Visando a diminuir os riscos de lesão (menos lesões significam mais atletas de alto nível por mais tempo em campo), a MLB aumentou o espaço que o corredor terá para pisar em uma base, algo que produzirá um “efeito colateral” saudável: as rebatidas e roubos de base tendem a aumentar, o que deve gerar mais emoção e ampliar o apelo tático dos jogos.

Todas essas alterações já estão sendo adotadas nos jogos de spring training (pré-temporada), de modo que os jogadores da MLB possam ter, até o início da temporada regular em 30 de março, mais tempo para adaptação e assimilação.

Mas não é somente por meio das novas regras que a MLB busca recuperar a popularidade do esporte. A internacionalização da marca também é uma estratégia nesse sentido.

Teve início, no último dia 8 de março, o World Baseball Classic, uma espécie de Copa do Mundo de beisebol, torneio sancionado pela World Baseball Softball Confederation (WBSC) e organizado pela MLB e pela MLBPA (associação dos jogadores).

O Brasil, aliás, participou da edição de 2013 do torneio após vencer o Panamá nas eliminatórias (1×0), concretizando uma das maiores zebras da história do beisebol latino-americano. A seleção brasileira, porém, ficou de fora da atual edição após derrotas para Panamá e Nicarágua na fase classificatória.

Em 2023, o World Baseball Classic terá o maior número de participantes de todos os tempos, vinte no total, divididos em quatro grupos de cinco. Os dois primeiros de cada grupo se classificam para a fase quartas de final.

O World Baseball Classic não possui um único país sede. Dois grupos jogam nos Estados Unidos (onde ocorrerá a final, em Miami), um joga no Japão e outro joga em Taiwan.

Sem utilizar as novas regras da MLB, o World Baseball Classic se sustenta tanto como tentativa de internacionalização da marca quanto por permitir um jogo que não leva em consideração as ditas “regras não escritas” do beisebol.

Como assim?

Bom, como o próprio nome indica, as “regras não escritas” do beisebol não estão normatizadas, embora sejam respeitadas pelos jogadores. Por outro lado, elas são motivo de crítica por parte dos torcedores.

Uma dessas regras se refere ao fato de o rebatedor não poder comemorar um home run (principal pontuação do jogo) de forma efusiva, pois isso seria um desrespeito ao arremessador.

Outra regra não escrita impõe que o lançador não pode comemorar um strike out de forma exacerbada, para não desrespeitar o rebatedor.

Vamos a um exemplo para ilustrar. Em 2020, na MLB, o jogador do San Diego Padres Fernando Tatís Jr. foi muito criticado por rebater um Grand Slam (home run com as bases lotadas) na oitava entrada, quando seu time vencia o Texas Rangers por 10 a 3. O arremessador do time do Texas havia lançado três bolas fora da zona de strike e, buscando se recuperar na contagem, lançou uma bola bem no meio da zona, permitindo que Tatís rebatesse a bola para fora do estádio. Entretanto, sua atitude foi considerada desrespeitosa e ele precisou se desculpar publicamente na coletiva de imprensa.

Ocorre que o beisebol jogado na World Baseball Classic, sobretudo por parte dos latino-americanos, não obedece a essas “regras não escritas”. Temos, então, os melhores jogadores do planeta se enfrentando sem medo de comemorar uma pontuação de forma acentuada.

É como se esses atletas jogassem o esporte de uma forma mais “pura”, tornando o beisebol mais leve e ativo e mostrando como o jogo pode ser divertido e capaz de cativar novos adeptos ao redor do mundo.

Mesmo sem possuir a força que tinha no início do século passado, o beisebol permanece arraigado na cultura esportiva norte-americana. Por meio das iniciativas da MLB, o esporte pode se reinventar e deixar transparecer o lado incrível e surpreendente do jogo, responsável por criar mitos como “Babe” Ruth, “Joe” DiMaggio, Mickey Mantle, “Ted” Williams e Derek Jeter, e por contribuir socialmente, como ocorreu quando Jackie Robinson, quebrando a barreira racial, foi o primeiro atleta negro a atuar na então principal liga esportiva do país.

Crédito imagem: MLB

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* Texto produzido em parceria com o colunista convidado Rafael Butter, graduado em Direito pela Universidade Federal Fluminense (UFRJ), atualmente cursando Aperfeiçoamento em Gestão Esportiva pela FIFA/CIES/FGV e o MBA em Negócios do Esporte e Direito Desportivo do Centro de Estudos em Direito e Negócios (CEDIN).

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