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O esperado e o inesperado

O texto da coluna nesta primeira semana de fevereiro seria apenas sobre o Super Bowl. Afinal, a 59ª edição do principal evento do sportainment mundial ocorrerá no próximo domingo.

A partida colocará frente à frente no Caesars Superdome, em Nova Orleans, o atual bicampeão Kansas City Chiefs e o Philadelphia Eagles, equipes que se enfrentaram recentemente, em 2023, também na disputa pela glória máxima do futebol americano.

Liderados por Patrick Mahomes, indiscutivelmente o melhor quarterback da NFL nesta década, o Chiefs fará sua quinta decisão nos últimos seis anos.

Por sua vez, o Eagles, que esteve no Brasil em 2024 (a liga deve voltar ao país em 2025), vem de sólidas campanhas em múltiplas temporadas, sendo invariavelmente apontado como um dos candidatos ao título.

Conhecida por sua rica cultura e hospitalidade, Nova Orleans faturará alto com o influxo de turistas, dentre os quais haverá torcedores, celebridades e curiosos para todos os gostos, sob os olhares de uma legião de jornalistas de incontáveis nacionalidades.

O motor econômico que é o esporte renderá polpudos dividendos para os mercados de apostas e de publicidade. Não será um domingo qualquer.

Até aí, dos times à pujança econômica do Super Bowl, pode se dizer que tudo ocorrerá conforme o esperado.

O inesperado, porém, marcou presença no último final de semana e se impôs como um tema igualmente necessário aqui na coluna: o Dallas Mavericks, na calada da noite, decidiu trocar a sua maior estrela, Luka Dončić, para o Los Angeles Lakers.

Considerado um talento geracional e um dos principais jogadores da NBA, Luka expressou surpresa e decepção com a troca. Em uma mensagem emotiva publicada nas redes sociais, o esloveno disse acreditar que passaria toda a carreira no Mavericks.

O que o ecossistema do basquete vem se perguntando desde que a troca chocou o mundo é: por qual razão a franquia de Dallas tomou essa decisão em meio à temporada?

Embora o movimento tenha levado para o Mavericks um atleta de destaque (Anthony Davis) e ainda que tensões internas quanto à condição física de Dončić e quanto a seus hábitos fora das quadras estivessem ganhando corpo, renunciar a um craque que sequer atingiu o auge técnico parece uma insanidade.

Luka completará 26 anos de idade em breve, enquanto Anthony Davis, que possui um extenso histórico de lesões, fará 32 daqui a pouco mais de um mês.

O restante do que Dallas recebeu na troca (dois jogadores secundários e uma escolha de 1ª rodada em 2029) está muito longe de representar um retorno à altura do potencial já demonstrado por Dončić, que levou o time à mais recente final da NBA e que fez parte do quinteto ideal da liga desde a temporada 2019-2020.

E, como se não bastasse, a reação da torcida do Mavericks, que não poupou críticas quanto à perda de seu maior ídolo na atualidade, foi a pior possível.

Afinal, para além da declarada intenção de focar a montagem da equipe nas capacidades defensivas (algo que, na teoria, justificaria “substituir” Luka por Anthony Davis), o que mais há por detrás da troca?

Escrevemos há algumas semanas sobre como regras e contratos ditam os rumos do esporte. Acreditamos que a resposta esteja aí.

O contrato assinado em 2022 entre Luka e o Dallas Mavericks, no valor de aproximadamente US$ 215,1 milhões, vigeria até o final da temporada 2026-2027. Contudo, de acordo com as regras da NBA, o jogador estaria elegível para assinar uma extensão contratual pelo chamado “supermáximo”, atribuível a quem tenha completado ao menos sete anos na liga em uma mesma equipe, tenha sido eleito MVP ou tenha sido selecionado para o time ideal em duas das três temporadas anteriores à assinatura do acordo.

Com isso, Dončić, já no meio deste ano, passaria a ter o direito de pleitear uma extensão de cinco anos no valor de US$ 346,3 milhões, que entraria em vigor na temporada 2026-2027 e vigoraria até 2030-2031.

O novo contrato incluiria salários anuais crescentes, começando em US$ 59,7 milhões e alcançando US$ 78,8 milhões na última temporada.

Tudo leva a crer que o Dallas Mavericks simplesmente não quis ser “refém” de Luka Dončić na negociação desse próximo ciclo contratual. E que a franquia entendeu como politicamente irrealizável deixar de oferecer a Luka todo esse dinheiro por tantos anos de contrato, algo que poderia tornar a equipe economicamente inviável.

Teriam prevalecido, pois, motivações financeiras em detrimento de questões esportivas, algo que não deixa de ser triste apesar da empolgação natural em vermos Luka ao lado de LeBron James na franquia mais glamurosa da NBA.

Ah, as ironias do destino…Anthony Davis também foi trocado (antes do auge) para o Los Angeles Lakers (de LeBron James), pois sinalizou à direção do New Orleans Pelicans que não assinaria uma extensão contratual a fim de permanecer no longo prazo em Nova Orleans; Nova Orleans é a sede do vindouro Super Bowl, que terá como maior atração Patrick Mahomes, torcedor do Dallas Mavericks e fã de Luka Dončić; Luka Dončić que foi trocado (antes do auge) para o Los Angeles Lakers (de LeBron James).

No esporte e na vida, o esperado e o inesperado às vezes se cruzam de maneiras que nossa “vã filosofia” não é capaz de explicar.

Crédito imagem: Vernon Bryant/The Dallas Morning News

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