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O “load management” e a nova Política de Participação de Jogadores na NBA

Conforme anunciado na última coluna, chegou a hora de abordarmos, novamente, o tema do load management na NBA, já tratado por aqui em janeiro de 2023. O contexto, agora, é a iminente entrada em vigor da nova Política de Participação de Jogadores da principal competição do basquete mundial.

Anteriormente, a reflexão que propusemos foi a seguinte: para uma liga que tanto se orgulha de ser orientada para a experiência do fã, como lidar com os efeitos de uma conduta que desagrada fortemente torcedores e parceiros de mídia, que são, em última análise, aqueles que “pagam a conta”?

Embora seja difícil negar, racionalmente, os benefícios de curto e longo prazo que o gerenciamento de carga/intensidade dos treinamentos e o controle de minutagem nos jogos propiciam à saúde dos atletas, até que ponto deixar jogadores de fora de determinadas partidas desvaloriza o negócio da NBA?

Evidentemente, a liga também se debruçou sobre essa questão nos últimos meses, o que culminou com a aprovação de novas regras que limitam as condições nas quais um atleta pode ser poupado ao longo da temporada regular.

Quando da divulgação da decisão tomada pelo Conselho de Governadores, o comissário Adam Silver declarou que todo o ecossistema da liga, inclusive a Associação dos Atletas, desejava “retomar o princípio de que a NBA é uma competição de 82 jogos”.

O pressuposto da Política de Participação de Jogadores é que atletas relevantes só poderão ser poupados por uma das razões previamente admissíveis conforme a regulamentação que entrará em vigor no dia 24 de outubro de 2023, data que marca o início da próxima temporada. A equipe que deixar de escalar uma estrela sem observar os parâmetros estabelecidos será punida financeiramente.

Em síntese, por força dessa Política de Participação de Jogadores da NBA, as franquias precisarão trabalhar para garantir:

– que não mais do que uma estrela seja poupada em uma mesma partida, sendo considerados estrelas os atletas que tenham sido selecionados para o All-Star Game ou para um dos times ideais da liga nas últimas três temporadas;

– que as principais estrelas estejam disponíveis para os jogos transmitidos nacionalmente pela televisão e para os jogos do torneio de intertemporada que estreará em 2023-24;

– que haja um equilíbrio entre o número de ausências de uma estrela em jogos como mandante e como visitante; e

– que um jogador que esteja saudável, mas venha a ser poupado justificadamente, compareça aos jogos e esteja visível para o público.

Vale mencionar que a Política de Participação de Jogadores vem para substituir a antiga Política de Descanso de Jogadores que fora implementada antes da temporada 2017-18, a qual, de fato, mostrou-se defasada à medida em que a adoção do load management se aprofundou na NBA.

As exceções da nova regulamentação abrangem as lesões objetivamente demonstradas, motivos pessoais e restrições relacionadas (i) à idade do jogador, (ii) à carga de trabalho acumulada ao longo da carreira e (iii) ao histórico de contusões graves de um atleta.

Por razões óbvias, dedica-se uma atenção especial às estrelas que tenham 35 anos ou mais e/ou que já tenham atuado em pelo menos 34.000 minutos na temporada regular ou em 1.000 jogos combinados entre temporada regular e playoffs (se você pensou em LeBron James, acertou!).

Pela Política de Participação de Jogadores, as equipes poderão fornecer, por escrito e com uma semana de antecedência, motivos aptos a justificar a não escalação de um atleta. Ou seja, não se trata de um regramento absolutamente inflexível.

Ao todo, 25 times e 50 jogadores, ou aproximadamente 11% da NBA, serão impactados pelas novas regras. Das 25 equipes afetadas, 15 possuem mais de uma estrela. Até que tal lista venha a ser atualizada após o All-Star Game de 2024, esse é o cenário.

As multas aplicáveis partem de US$ 100 mil para as primeiras infrações, US$ 250 mil para as infrações seguintes e, a cada multa adicional, US$ 1 milhão a mais do que a última penalidade que tiver sido aplicada.

Além de as franquias sentirem “no bolso” as consequências de um eventual descumprimento da Política de Participação de Jogadores, os atletas também sentirão. Afinal, como já mencionamos por aqui, o acordo coletivo de trabalho vigente na NBA determina que um jogador precisa atuar em, no mínimo, 65 partidas a fim de que possa estar elegível para os prêmios individuais da temporada, algo que afeta diretamente as quantias que podem ser oferecidas nos contratos e extensões contratuais assinados no âmbito da liga.

Existe um pano de fundo que justifica a grande preocupação da NBA com as implicações do load management: a liga negocia, neste momento, o seu próximo acordo de direitos de transmissão. Sem as principais estrelas nos principais jogos, os valores pagos pelas partidas da temporada regular, naturalmente, diminuirão.

Na mídia norte-americana, há quem afirme que a nova Política de Participação de Jogadores é construída sobre um “castelo de cartas”, pelo fato de não endereçar o fator escassez como o único elemento capaz de assegurar um acréscimo no valor do produto da NBA.

Em outras palavras, 82 jogos de temporada regular continua sendo uma quantidade enorme de partidas, diante da qual as equipes seguirão buscando toda e qualquer brecha para preservar os seus principais ativos, os atletas.

Presume-se que as partes envolvidas agirão de boa-fé e que não veremos equipes falseando lesões de seus jogadores para driblar as regras. Todavia, é possível, realisticamente, esperarmos “o melhor dos dois mundos”?

Dizendo de outro modo, é factível que tenhamos em quadra as principais estrelas da liga pelo máximo de jogos possível na temporada regular sem que a qualidade do jogo fique prejudicada nos momentos mais agudos da competição?

Como apontado pelo jornalista Jon Krawczynski em matéria no The Athletic, Jayson Tatum, do Boston Celtics, foi o único jogador escolhido para um dos dois primeiros quintetos ideais da temporada passada a jogar pelo menos 70 partidas em 2022-23. Ainda que a NBA queira, legitimamente, valorizar a temporada regular, não é muito mais importante que os principais nomes estejam descansados e saudáveis para os playoffs? Até prova em contrário, é nisso que as equipes e os próprios atletas tendem a acreditar.

Nunca existiram tantos profissionais dedicados a monitorar o que os jogadores comem, como eles treinam, o quanto dormem e quanto tempo passam descansando. É caro manter toda essa estrutura de ciência do esporte funcionando. Faz sentido deixá-la em segundo plano por aspectos mais comerciais do que esportivos? Esse “tiro” não pode, em um futuro breve, “sair pela culatra”?

O debate é complexo e vem rendendo material também na cobertura da NBA feita aqui no Brasil.

Estejamos atentos, pois, a uma temática que se fará presente ao longo de toda a temporada 2023-24. De uma coisa podemos ter certeza: nós não seremos poupados dessa discussão!

Crédito imagem: Getty Images/Ringer illustration

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