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O vale-tudo acabou: a importância do respeito à suspensão médica do atleta pela entidade desportiva de combate

A campeã dos pesos-penas do Bellator MMA e lenda, Cris Justino, a Cyborg, tem luta de boxe profissional[1] programada contra Simone Silva, boxeadora profissional, na segunda edição do Fight Music Show, que ocorre em 25 de setembro de 2022 no Brasil.

A luta Cyborg/Silva será a principal do card do FMS 2 que ocorrerá Arena Athletico Paranaense, em Curitiba, BR. Coincidentemente, este também é o local onde Cyborg fez sua estreia no UFC contra Leslie Smith no UFC 198.

A oponente de Cyborg, Simone Silva, detém um recorde profissional de 17-22 no boxe e já dividiu o ringue uma vez contra a super campeã do boxe Amanda Serrano. Porém, Simone vem de um ciclo de nove derrotas seguidas. Sem vitória em quatro confrontos em 2022 após ter sido nocauteada por Jessica Câmara em agosto de 2022 no Texas, Silva está atualmente servindo uma suspensão médica de 60 dias pelo Programa de Esportes de Combate do Texas (TCSP).

O Departamento de Licenciamento e Regulamentação do Texas (TDLR) divulgou uma declaração ao MMA Fighting sobre a marcação de outra luta de Silva enquanto ainda serve uma suspensão, veja-se, pois:

“Alguns países honram as suspensões médicas do TDLR e do ABC e outros não. A segurança dos combatentes é nossa maior preocupação, e se Da Silva retornar ao Texas para uma luta, provavelmente exigiremos que ela seja submetida a testes de EEG e EKG para garantir que ela seja capaz de competir com segurança”.

Até o momento, não há consenso nos esportes de combate em relação ao gerenciamento de combatentes que sofreram uma concussão ou sobre o retorno à competição após uma concussão. Nos esportes de combate, o contato é um objetivo do próprio esporte. Assim, o gerenciamento e tratamento da concussão nos esportes de combate deve ser mais rigoroso do que para as contrapartes não-combatentes esportivos[2].

A questão são as lesões cerebrais que ocorrem durante o treino, que podem agravar lesões pré e pós-luta. O tempo de descanso que a comissão responsável aplica em forma de suspensão ao atleta precisa ser sempre observado.

A ex-lutadora do UFC, Roxanne Modafferia, assim narrou uma situação desconfortável que ocorreu com ela durante uma recuperação de uma concussão:

Quando voltei ao treinamento depois de lutar contra Taila em setembro de 2021, percebi que não era apenas uma pessoa que me batia com muita força.  Eram os golpes de todos. Antes eu era capaz de andar em meio aos socos, mas mesmo os mais leves me davam uma dor de cabeça e aquela sensação de “não estar bem” depois do treino.

Foi quando eu decidi que faria uma última luta para chegar a 50 lutas e encerrar a carreira.

Escolhi cuidadosamente meus parceiros para aqueles três meses de preparação para a luta, e usei meu capacete 100% do tempo.  Desta vez, nunca fiquei abalado e não tive nenhum efeito nocivo. Uma garota até me deu uma cotovelada na cabeça com muita força e eu não me senti abalada.

Eu me preparei tão bem. Durante a luta, ainda fui capaz de absorver golpes e não me senti concussada. Minhas medidas preventivas foram bem sucedidas.

Felizmente, eu só tive sintomas leves de concussão. Tive a sorte de conseguir sair com minhas células cerebrais essenciais intactas. Meus pais estão muito felizes agora.

Acho que os combatentes deveriam ser mais instruídos sobre o trauma cerebral para que pelo menos eles conheçam os sinais, sintomas e possam tomar decisões sobre o que estão arriscando.

Em relação ao caso da adversária de Cyborg, Organização Brasileira de Boxe (OBBoxe), contratada para supervisionar a parte de boxe do FMS 2, disse ao MMA Fighting que decidiram não supervisionar Cyborg vs. Silva, o evento principal, devido à suspensão médica atual de Silva.

A OBBoxe não tem autorização para registrar lutas oficiais no BoxRec, característica que somente o CNB (Conselho Nacional de Boxe) possui hoje no Brasil, como falamos em artigo anterior, sendo que tal registro serve precisamente para evitar que o atleta se lesione em demasia.

O FMS 2 terá três lutas de exibição de boxe, incluindo o ex-campeão da WBA e da WBO Acelino “Popó” Freitas contra a lenda do Vale-tudo José Landy Johns e Miltinho Vieira contra Felipe Arantes, que serão supervisionados pela OBBoxe.

Crédito imagem: getty images

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REFERÊNCIAS

RODRIGUEZ, Robert G. The regulation of boxing: A history and comparative analysis of policies among American States. Carolina do Norte, EUA: McFarland & Company, Inc., Publishers, 2009. ISBN 978-0-7864-3862-4.

[1] Embora o evento considere a luta como “profissional” ela não é legalmente assim considerada, já que o atleta de alto rendimento remunerado com base em qualquer outra relação que não contemple a existência de um contrato de trabalho será considerado como não profissional, conclusão extraída do inciso II do art. 3º, §1º da Lei Pelé. Lado outro, como o evento não tem vinculação à entidade capaz de registrar a luta perante entidades internacionais de registro válidas para efeitos de cartel oficial, por estas a luta também será considerada como de “exibição”, ou seja, não profissional.

[2] NEIDECKER, John et al. Concussion management in combat sports: consensus statement from the Association of Ringside Physicians. British Journal of Sports Medicine, [S. l.], v. 53, n. 6, p. 328-333, 2019. Disponível em: https://bjsm.bmj.com/content/53/6/328. Acesso em: 17 set. 2022.

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