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Show me the money!

Para quem não conhece a frase que escolhi para o título deste texto, trata-se de uma expressão que se popularizou com o filme Jerry Maguire, de 1996, estrelado por Tom Cruise e que rendeu o Oscar de melhor ator coadjuvante a Cuba Gooding Jr.  

O filme foi inspirado na história real do agente Leigh Steinberg (que hoje representa o quarterback Patrick Mahomes) e na experiência dele com o cliente Tim McDonald durante a temporada de 1993 da NFL, quando a free agency como a conhecemos foi introduzida na liga.

Aliás, a trajetória percorrida até que a NFL adotasse a free agency é bem interessante. Esperamos, em breve, abordá-la aqui na coluna. Por ora, vamos focar somente nas etapas finais desse percurso

Em 24 de setembro de 1992, o juiz David Dotyconcedeu aos atletas Keith Jackson (Philadelphia Eagles), Garin Veris (New England Patriots),Webster Slaughter (Cleveland Browns) e D.J. Dozier(Detroit Lions) uma liminar permitindo que eles se tornassem agentes livres irrestritos por 5 (cinco)dias, até que uma audiência para a produção de provas pudesse ser realizada. Nesse curto prazo, Jackson, Slaughter e Veris assinaram contratos, respectivamente, com o Miami Dolphins, o então Houston Oilers e o San Francisco 49ers. Dozier não conseguiu nenhuma nova equipe no período.

Depois dessa primeira “fagulha”, antecedida por um turbulento período que incluiu uma greve dos atletas em 1987 e diversas ações antitruste, foi celebrado, em 1993, um acordo judicial no caso White vsNational Football League, uma ação coletiva em que 26 (vinte e seis) atletas questionavam aspectos trabalhistas então vigentes na NFL. O objetivo final dos jogadores era regular a própria liberdade de trabalho, enquanto a liga lutava para preservar o equilíbrio competitivo entre as equipes.  

Daí em diante, além da free agency, a liga de futebol americano passaria a contar, em 1994, com um teto salarial. Isso se deu em consequência da presença de agentes livres no mercado, que fez os saláriosdos atletas atingirem o percentual de 67% das receitas das franquias. Era necessário estabelecer mecanismos de equalização.

O valor do primeiro teto salarial? US$ 34,6 milhões. Vamos dar um salto no tempo?

O teto salarial da NFL em 2022 é de US$ 208,2 milhões, havendo uma projeção de que seja de US$ 225 milhões em 2023. A partir do próximo Super Bowl, cujo show do intervalo será de Rihanna, a Apple será a patrocinadora oficial do evento e especula-se que a gigante de tecnologia tenha desembolsado US$ 250 milhões em um contrato de longo prazo com a liga.

Como aponta um excelente artigo do The BlockPoint, aproximar-se da NFL significa, para a Apple,direcionar esforços ao streaming de atrações esportivas e à chamada Web3.

Há rumores de que a “marca da maçã” teria vencido Amazon, Disney, ESPN e Google na concorrência para adquirir o NFL Sunday Ticket, popular pacote de streaming que, desde 1994, é da DirecTV, que paga por ele US$ 1,5 bilhão por ano. O novo contrato seria de US$ 2,5 bilhões por temporada.

Todo esse investimento da Apple, que inclui, ainda, a veiculação dos jogos de sexta-feira da Major League Baseball (MLB) em 2022 e os direitos de transmissão da liga de baseball a partir de 2023, não é em vão. Podemos dizer que estão se formando as condições para uma “tempestade perfeita.

Rihanna é uma das artistas preferidas da Geração Z e dos Millennials e poderá levar ao palco, na badalada apresentação no intervalo do Super Bowl, um ou mais de seus habituais parceiros musicais, como Calvin Harris, Drake, Kanye West e/ou Jay Z.Qualquer que seja a combinação, e mesmo se a cantora nascida em Barbados se apresentar sozinha, o sucesso e a repercussão estão garantidos.

O streaming ultrapassou a TV a cabo pela primeira vez nos Estados Unidos, segundo dados divulgados pela Nielsen, e, para os próximos anos, a projeção é de que a TV paga cairá de 80 para 60 milhões de casas, conforme pesquisa da Barron’s. Soma-se a isso o fato de que a audiência televisiva entre pessoas de 18 a 49 anos caiu 39% em relação ao mesmo período do ano anterior, de acordo com aMoffettNathanson.

Ou seja, existe uma migração em massa das transmissões televisas (inclusive as esportivas) para o streaming, sobretudo entre os mais jovens, algo que foi diagnosticado pelas principais figuras do mercado.

A Apple, que tem a inovação como um de seus pilares, também divulgou recentemente que irá liberar a comercialização de NFTs em sua loja virtual. E não é coincidência que, no mesmo momento, a NFL esteja expandindo projetos relacionados a colecionáveis digitais.

No último mês de setembro, por exemplo, por meio da plataforma NFL All Day, a NFL teria faturado mais de US$ 1,17 milhão no mercado secundário de ativos digitais. Em parceria com a Dapper Labs, a liga lançou o Playbook, atração interativa que permite aos jogadores acumular prêmios e intensificar a imersão. Direcionando o tráfego de usuários para o Discord, onde a comunidade de fãs interage com o projeto, a NFL viu o número de visitantes aumentar exponencialmente.

A Apple vem percebendo, enfim, como pode ser lucrativo viabilizar, em um mesmo ambiente, a transmissão de eventos esportivos e outras transações envolvendo propriedades intelectuais ligadas ao esporte, atraindo os amantes da NFL, no processo, para os iPhones, Macs e iPads.

Como apontou o especialista Felipe Ribbe em ótimo artigo para a Máquina do Esporte, tem sido comum que entidades esportivas firmem acordos para lançar NFTs com uma empresa, produzam fan tokens com outra e contratem uma terceira entidade para fazer ativações no metaverso, o que confunde o consumidor final, que é o torcedor. Essa estratégia (que pode ser, na verdade, sinal da ausência de uma estratégia) dificulta ou impede a interoperabilidade entre as diferentes bases de blockchain sobre as quais são construídos os “produtos/serviços” vinculados às marcas esportivas.

Por outro lado, nessas iniciativas junto à NFL, a Apple demonstra estar atenta às vantagens que advêm de uma maior integração entre as diversas soluções tecnológicas existentes. O que ela visualiza, provavelmente, é ser a catalisadora do cenário hipotético descrito por Felipe Ribbe, em que “o potencial só será 100% aproveitado se tudo estiver interligado.

Assim, um ingresso para uma partida pode se tornar um colecionável digital negociável em marketplace, junto a outros colecionáveis, que por sua vez são elementos do sócio-torcedortokenizado, que transformará seus pontos em fantokens, que poderão ser trocados por NFTs de games ou experiências presenciais, e darão acesso a uma área exclusiva na loja virtual com itens de tiragem limitada, com cashback em fan tokens a cada compra e negociação permitida dentro e fora do ecossistema do clube.

Sim, é para esse futuro que os esportes estão caminhando e a Apple sabe que tem fortes competidores na disputa, como a Amazon, que promoverá, a partir de 2023, o primeiro jogo da NFL em uma Black Friday.

A partida passará a integrar o calendário da liga no dia seguinte ao dos tradicionais jogos do Thanksgiving nos Estados Unidos. O Prime Video, da Amazon, já é, até 2032, o serviço de streamingque transmite as partidas do Thursday Night Football.

Mas não é somente a NFL que vem se movimentando com os avanços digitais. A NBA, cuja receita da última temporada superou US$ 10 bilhões pela primeira vez, consolidou-se como a segunda força entre as ligas esportivas norte-americanas e mantém-se no topo no que se refere ao alcance no mercado internacional, que representa 30% dos negócios da liga atualmente.

Cerca de 70% dos seguidores da NBA em mídias sociais estão fora dos Estados Unidos, em um contingente que abrange 214 nações e mais de 50 idiomas. A conta da liga no Twitter ultrapassou 40 milhões de seguidores, fazendo com que ela esteja entre as 10 marcas mais seguidas na plataforma, à frente da Premier League, de La Liga e da própria NFL.

Foi nesse contexto que a NBA, segundo informações do Sportico, aprovou a ampliação deseu International Team Marketing Plan, passando a permitir que as franquias possam fechar contratos com até 10 (dez) patrocinadores globais, em vez dos 3 (três) autorizados até então, tudo para ampliar a presença em mercados específicos (dentre os quais está o Brasil).

O atual contrato de direitos de mídia da NBA, que terá rendido à liga um total de US$ 24 bilhões, sendo US$ 2,6 bilhões anualmente, terminará na temporada 2024/25. Considerando o sucesso da internacionalização da marca, fortemente impulsionado pelas experiências digitais (afinal, uma parcela pequena do público consegue assistir aos jogos em arenas dos Estados Unidos), um novo contrato de mesma natureza deverá ser fechado na casa dos US$ 75 bilhões.

Nesse cenário, passa a fazer mais sentido o anúncio do acordo entre a NBA e a CNN para a transmissão de partidas da liga no mercado brasileiro por meiodo canal da emissora no Facebook.

Com isso, além de estarem disponíveis, em diferentes pacotes, no serviço de streaming oficial da liga (o League Pass), os jogos da NBA poderão ser vistos pelo fã brasileiro na CNN (Facebook), na TNT Sports (TV fechada e YouTube), no canal da Budweiser no YouTube, na ESPN (TV fechada), na Band (TV aberta), na Twitch (canal do Gaules) e no Prime Video (streaming da Amazon). Existe, ainda, a possibilidade de um retorno ao SporTv. Haja opção!

No filme de 1996, a frase Show me the money! saía das bocas dos personagens Rod Tidwell e Jerry Maguire. No nosso tempo, é bem fácil atribui-la à NBA e à NFL.

Por isso, o jogo que se joga na atualidade é, cada vez mais, um jogo de cestas, jardas e cifras. E transmitido em plataformas de streaming, com todas as oportunidades que isso representa.

Crédito imagem: getty images

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