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Messi, Mbappé, NBA e geopolítica: um retrato do esporte no século XXI

Um menino, segurando uma bola de futebol, abre as cortinas que separam as diferentes classes de um avião. No instante seguinte, ele se depara com Lionel Messi.

Após fazer menção de entregar a bola para que o jogador a autografe, o menino levanta o olhar e vê, algumas cadeiras adiante, Kobe Bryant, que parece querer impressionar o garoto fazendo malabarismos com uma bola de basquete.

Diante do sinal de Messi para que se aproxime, o menino, estupefato, joga a bola de futebol na direção do craque argentino, que começa a fazer embaixadas e outros truques de habilidade.

Sentindo-se desafiado, agora é Kobe quem chama o menino, brincando de passar a bola de basquete por entre as pernas, de um lado para o outro.

Messi não se dá por vencido e, equilibrando uma bola sobre a cabeça, faz embaixadas com outra “pelota”.

Daí em diante, o menino alterna sua atenção entre Kobe, que monta um impressionante castelo com cartas de baralho, e Messi, que empilha cartas semelhantes de maneira ainda mais sofisticada.

A próxima rodada do desafio entre o gênio do futebol e a lenda do basquete envolve esculturas com balões: ambos fazem cachorros para dar de presente ao menino, um caprichando mais do que o outro.

Mas, afinal, qual foi vencedor desse “faroeste” nas alturas? Nenhum dos dois. Quem conquista definitivamente a atenção do menino é uma aeromoça que oferece sorvete a ele.

Esse divertido comercial da Turkish Airlines foi ao ar há mais de uma década, em 2012. No ano seguinte, a companhia aérea voltou a reunir Messi e Kobe em uma campanha publicitária que venceu inúmeros prêmios e que consistia em uma batalha de selfiesem diferentes “cartões-postais” e destinos exóticos espalhados pelo mundo.

Ao longo dos anos, a relação entre Messi e a NBA (e entre a NBA e Messi) foi bem além dos comerciais com Kobe e de ações de marketing promovidas pela seleção argentina e pelo Barcelona (que, aliás,divide um mesmo patrocinador com o Golden State Warriors).

O respeito mútuo entre o gênio dos gramados e nomes como LeBron James e Stephen Curry é evidente. Basta “zapear” pela internet para encontrar diversos registros dos encontros entre o pequeno camisa 10 e os gigantes das quadras, sempre permeados pelas declarações elogiosas de lado a lado.

a relação entre Mbappé e a NBA é ainda mais intensa: fã declarado do “melhor basquete do mundo” e figura carimbada nas arenas norte-americanas, ele passou a ser parceiro comercial da liga em junho de 2022 por meio da Zebra Valley, uma produtora de conteúdo lançada recentemente pelo brilhante atacante da seleção francesa e do PSG.

Por falar em PSG, há laços que unem diretamente o clube francês ao basquete norte-americano. Isso porque a Air Jordan é a fornecedora de material esportivo da equipe parisiense.

A propósito, quando o maior jogador argentino desde Maradona foi contratado para atuar em Paris, a manchete “Michael Jordan lucra com a chegada de Messi ao PSG” foi replicada em inúmeros veículos de mídia.

Neste domingo, 18 de dezembro de 2022, Messi e Mbappé, companheiros no PSG, disputarão a final da Copa do Mundo no Qatar. Apenas um deles sairá de campo com a glória de ter levado sua seleção ao tricampeonato mundial.

Enquanto o veterano argentino busca a apoteose em sua quinta e última participação na competição, o jovem francês tenta a façanha do segundo título consecutivo em sua segunda Copa.

Messi é patrocinado pela Adidas. Mbappé, que, diga-se de passagem, tem uma postura bastante ativa no que se refere a seus direitos de imagem, é um dos principais rostos da Nike.

Nos últimos tempos, tanto Mbappé quanto Messiforam alvos de comentários de atletas da NBA por conta de seus fabulosos salários.

E, involuntariamente, ambos são citados com frequência quando o tema é o Sportwashing, tanto pela relação do PSG com o Qatar quanto pelo fato de Messi ser uma espécie de embaixador do turismo na Arábia Saudita.

Messi e Mbappé, duas das maiores figuras do esporte neste século, compartilham semelhanças e diferenças, diferenças e semelhanças.

Na atualidade, o entrelaçamento entre marcas e atletas (às vezes de diferentes modalidades) é uma das características mais intrigantes do universo esportivo. E essa dinâmica entre os players do mercado ganha especial relevância quando desemboca em questões atinentes a capital reputacional, a potenciais conflitos de interesse e adilemas éticos e morais.

Uma excelente matéria da CNN publicada no sábado, 17 de dezembro, véspera da final da Copa do Mundo, analisou como os mais notáveis patrocinadores do evento, principalmente aqueles com raízes no ocidente, se viram envolvidos na intrincada “teia” geopolítica do torneio disputado no Qatar.

Tendo de equilibrar interesses puramente comerciais com as legítimas e necessárias críticas feitas à FIFA e ao país anfitrião relativamente às violações de direitos humanos, colossos globais como Budweiser, Visa, Coca-Cola, McDonalds e Hyundai tiveram de se posicionar (às vezes não se posicionando) quando questionados diretamente a esse respeito.

Ex-atletas de renome (caso de David Beckham)também não passaram ilesos ao escrutínio. Ossos do ofício, exigências do nosso tempo.

Se, dentro de campo, Messi e Mbappé representam o contraste entre experiência e juventude (e entre Adidas e Nike) na batalha pelo título mundial, fora de campo eles se aproximam sob diversas perspectivas. Desde as mais genuínas (“temperadas” com arrojo do ponto de vista mercadológico), como o elo com a NBA, até as maisproblemáticas, como a vinculação ao Sportwashing.

Messi e Mbappé. Semelhanças e diferenças, diferenças e semelhanças. Na complexa realidade do esporte no século XXI, em que elementos esportivos, econômicos, políticos, sociais e culturais se misturam e se retroalimentam constantemente, não basta fazer sua seleção ser tricampeã mundial. O público e o mercado, para o bem e para o mal, exigirão mais.

Boa sorte aos dois! E que vença (ou tenha vencido, se você estiver lendo este texto após o jogo) o melhor!

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