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Os maiores de todos os tempos

No momento em que este texto é escrito, LeBron James está a 36 pontos de se tornar o maior pontuador da história da NBA. Quando o recorde estabelecido por Kareem Abdul-Jabbar for quebrado por LeBron, o debate sobre quem é o maior jogador de basquete de todos os tempos ganhará novas páginas, escritas por aqueles que acreditam que o “trono” não pertence mais a Michael Jordan.

O feito de LeBron deverá ser atingido poucos dias após Tom Brady haver anunciado a sua aposentadoria dos gramados da NFL. Desta vez, o quarterback disse que é “para valer”.

Brady, que possui mais Super Bowls (7) do que qualquer franquia da liga (aquelas com mais títulos possuem 6), atingiu um patamar em que quase não mais se discute a condição dele como o maior jogador de futebol americano de todos os tempos. Um raro consenso.

Além dos títulos, as 251 vitórias de Brady na temporada regular equivalem a mais do que a soma das vitórias de Joe Montana (117) e Terry Bradshaw (107), os quarterbacks que vêm atrás em número de Super Bowls conquistados (cada um deles venceu 4 vezes).

A diferença entre Brady e os que estão em segundo lugar na lista de maiores vencedores na temporada regular (Brett Favre e Peyton Manning, com 186 triunfos cada um) é de 65 vitórias. Tal número supera o total de vezes que outros quarterbacks consagrados, como Joe Namath (63), conseguiram vencer em toda a carreira.

Se o que realmente importa são os playoffs, o domínio de Brady continua absoluto: suas 34 vitórias representam mais do que o dobro das 16 vitórias de Joe Montana, ídolo de infância de Brady e o segundo no ranking de maiores vencedores na fase decisiva da temporada da NFL.

Se ainda assim for preciso mais para convencer os “céticos”, basta dizer que Tom Brady se aposenta como o líder nas estatísticas mais importantes do jogo: jardas passadas na temporada regular (89.214), jardas passadas nos playoffs (13.400), touchdowns marcados na temporada regular (649) e touchdowns marcados em playoffs (88).

Há alguns meses, o mundo viu outros esportistas tidos como os maiores de todos os tempos em suas modalidades, Serena Williams e Roger Federer, se aposentarem.

E viu Messi vencer a Copa do Mundo, o que, para muitos, fez com que ele passasse a estar, no mínimo, ao lado de Diego Armando Maradona na conversa sobre quem foi o maior futebolista que o planeta já viu depois de Pelé.

Pelé, apelido que virou metonímia para quando queremos nos referir a alguém que é o maior em determinada categoria, e que nos deixou também há pouco tempo.

A expressão “maior de todos os tempos” (ou GOAT, as iniciais em inglês de Greatest of All Time) nunca foi tão usada quanto em nossa época, marcada pela popularização das redes sociais.

Hoje, quem quer torna pública a própria opinião consegue fazê-lo de forma fácil e despreocupada. Basta teclar no computador ou no celular e você pode ser “ouvido” por qualquer pessoa em qualquer lugar em que exista acesso à internet.

E daí? Qual é a relevância dos debates sobre quem foi o maior atleta de uma determinada modalidade esportiva? No fundo, não é tudo uma questão de opinião e gosto pessoal?

Por mais que existam critérios objetivos que permitem algum tipo de lógica na argumentação comparativa, como no caso de Tom Brady, é inevitável que haja um alto grau de subjetividade nas avaliações sobre quem foi o maior (ou o melhor) em qualquer esporte ou em qualquer atividade humana.

Como comparar jogadores de diferentes eras se as circunstâncias de cada época são tão próprias e tão diferentes entre si?

Ora, até mesmo as regras de praticamente todas as modalidades esportivas sofreram mudanças ao longo do tempo!

Se existe, inclusive nos esportes individuais, um trabalho em equipe por trás de qualquer vitória, não deveríamos relativizar significativamente o peso de um só atleta diante de marcas conquistadas em esportes coletivos?

Se cada um tem o direito de escolher quais critérios são determinantes para tornar alguém o maior de todos os tempos em alguma coisa, a busca por um denominador comum universal a esse respeito não beira o impossível?

Sim, no fundo é tudo uma questão de opinião e gosto pessoal. Mas pergunto novamente: e daí?

Reflexões filosóficas à parte, nós, como amantes inocentes e inconsequentes do esporte, continuaremos comparando e proclamando quem é o maior, sem o menor constrangimento e sem nenhuma preocupação metodológica.

De todas as camadas que o esporte possui, uma das mais fascinantes é a capacidade de criar elos extremamente fortes e duradouros entre o torcedor e o ídolo.

As emoções que um gol, uma cesta ou um ponto podem provocar são capazes de perdurar em nossa memória indefinidamente.

O esporte define identidades e nos permite expressar e vivenciar sentimentos que talvez não tenhamos capacidade de expressar e vivenciar em outras esferas sociais.

Sob essa perspectiva, gastar tempo e energia para “eleger” o maior de todos os tempos de algo que nos causa tão boas sensações não deixa de ser uma maneira de homenagear e de retribuir as dádivas que o esporte nos proporciona.

Debater sobre quem foi o maior de todos os tempos é divertido e gera entretenimento, seja na mesa do bar, nos degraus da arquibancada ou nas redes sociais (aí chamamos de “engajamento”).

É prazeroso acompanhar a carreira de um LeBron e de um Messi e poder dizer que viu o maior de todos os tempos em ação, mesmo que exista um Jordan ou um Pelé a nos espreitar e alguém para censurar a nossa opinião.

Debata, não se reprima. É só ter a consciência de que cada um pode, ao final do debate, ir para casa com a própria convicção e ser feliz com o seu ídolo à sua maneira.

Eu tenho os meus maiores de todos os tempos. Você também certamente tem os seus. E isso deve bastar, embora possamos gastar horas debatendo e tentando mostrar quem tem razão. E daí?

Crédito imagem: Amber Matsumoto/Yahoo Sports illustration

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Daniel Alexandre Portilho Jardim é graduado em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais, Master of Laws (LL.M) em Direito Empresarial pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), membro da Comissão de Direito Desportivo da OAB/MG, especialista em Negócios no Esporte e Direito Desportivo e professor do MBA em Negócios no Esporte e Direito Desportivo do Centro de Estudos em Direito e Negócios (CEDIN), onde ministra a disciplina “Modelo de negócios das ligas esportivas norte-americanas”. É também sócio-fundador do Lage e Portilho Jardim Advocacia e Consultoria (www.lageportilhojardim.com.br) e editor-chefe do blog Negócios no Esporte (www.negociosnoesporte.com).

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