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Washington na pauta do dia

Na mesma semana em que ocorreram as midterms, eleições de meio de mandato nos Estados Unidos, a capital do país foi agitada por uma outra situação que não advém da disputa política entre Republicanos e Democratas.

Na quinta-feira, dia 10/11/2022, veio a público o ajuizamento de uma ação movida pelo Procurador-Geral de Washington, Karl Racine, na qual são réus o Washington Commanders (franquia da NFL cujo antigo nome, Washington Redskins, foi alterado por ser considerado ofensivo aos povos indígenas norte-americanos), Dan Snyder (acionista majoritário da equipe), a própria liga e o comissário Roger Goodell.

A ação judicial caiu como uma bomba em Washington dias depois do anúncio de que Dan Snyder pretende vender a franquia, que tem valor estimado em US$ 5.6 bilhões (especula-se que poderiam existir ofertas na casa dos US$ 7 bilhões).

No processo, os réus são acusados de agir em conluio para abafar a existência de uma “cultura tóxica de assédio sexual” e de “mau tratamento” às funcionárias do Commanders.

Segundo o Procurador-Geral, dirigentes da franquia e a NFL teriam mentido para os residentes de Washington com o objetivo de proteger os seus negócios. Em síntese e em tradução livre, estas são as alegações de Karl Racine:

Para vender ingressos e caros itens de merchandising e para manter o time como uma parte lucrativa da liga, os réus precisam que o time inspire a confiança do público e a lealdade dos fãs, mas eles tentaram, repetidamente, reforçar essa confiança e essa lealdade enganando os torcedores. (…) Você não pode mentir para os moradores de Washington para proteger sua imagem e seus lucros e se safar disso. Não importa quem você seja. Mesmo que você seja a NFL“.

Em comunicado, os advogados do Washington Commanders, John Brownlee e Stuart Nash, declararam:

Concordamos com Racine em uma coisa: o público precisa saber a verdade. Embora o processo repita muitas insinuações, meias verdades e mentiras, agradecemos esta oportunidade de defender a organização (…) em um tribunal, a fim de estabelecer, de uma vez por todas, o que é fato e o que é ficção“.

O porta-voz da NFL, Brian McCarthy, disse, por sua vez, que a liga refuta “as alegações jurídica e factualmente infundadas” do caso, cujas raízes remontam à investigação que mencionamos em texto anterior da coluna.

Antes do início da temporada de 2020 da NFL, diversas matérias publicadas pelo Washington Post revelaram, dentre outras graves condutas, uma abominável prática que seria comum no ambiente do Commanders: filmagens das dançarinas animadoras de torcida do time (as famosas cheerleaders) seriam editadas e montadas, com conotação sexual, especificamente para o “entretenimento” de Dan Snyder e de outros executivos da franquia.

A liga acabou assumindo o controle das investigações assim que a história ganhou as manchetes, mas, apesar de uma multa de US$ 10 milhões aplicada ao time em julho de 2021 e de Snyder, “voluntariamente”, ter decidido se afastar da gestão do Commanders, relatos de situações deploráveis nos bastidores da equipe da capital continuaram vindo à tona.

Nas palavras de Lisa Banks e Debra Katz, advogadas que representam mais de 40 ex-funcionários que fizeram acusações contra a franquia, a ação movida pelo Procurador-Geral de Washington “é mais uma prova do que é sabido há muito tempo: que tanto os Commanders quanto a NFL se envolveram em mentiras destinadas a esconder décadas de assédio e abuso sexual, que impactaram não apenas as próprias vítimas, mas também os consumidores [da região]”.

Como se já não tivesse problemas suficientes, Snyder passou grande dos últimos 2 anos em litígio com outros sócios do Commanders, em uma possível tentativa de alijá-los para que seus filhos, no futuro, viessem a assumir o controle da franquia.

Em uma curiosa passagem do livro Playmakers: How the NFL Really Works (And Doesn’t), que já citamos aqui, o jornalista Mike Florio discorre:

Não está claro por que alguém com dinheiro para comprar um time de futebol americano iria querer ser dono de um time de futebol americano. Alguns no esporte comparam o esforço à política, chamando-o de ´Hollywood para os feios´”.

Ironias à parte, o fato é que, mesmo com todo o desgaste gerado, ser dono de uma equipe esportiva é sinônimo de glamour e poder. Não é por outra razão, aliás, que o rapper Jay-Z e o fundador da Amazon, Jeff Bezos, se encontraram em Los Angeles na última semana para um jantar em que o tema principal foi, justamente, a possível compra do Commanders pelos dois famosos bilionários.

No mundo do basquete, LeBron James vem dizendo, abertamente, que, como um de seus muitos investimentos, quer ser dono da franquia de expansão da NBA especulada para ser criada em Las Vegas.

Nessa empreitada, ele seguiria os passos de Michael Jordan, proprietário do Charlotte Hornets, e de Magic Johnson, que, além de possuir participações acionárias no Los Angeles Lakers, no Los Angeles Dodgers (MLB), no Los Angeles Sparks (WNBA) e no Los Angeles Football Club (MLS), tem sido apontado como potencial comprador de uma “fatia” do Las Vegas Raiders (NFL).

Na atualidade, assim como os atletas, cobrados por suas posturas dentro e fora dos campos e das quadras, os proprietários de entidades esportivas também estão sob os holofotes.

E, como vimos nos casos de Robert Sarver e Donald Sterling, o fato de serem poderosos e endinheirados jamais poderá isentá-los de responsabilização na hipótese de desvios de conduta.

A lei é para todos e accountability, também no universo do esporte, é algo que não se negocia.

Crédito imagem: AP Photo/Susan Walsh

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