Teve início a segunda edição da Copa da NBA, agora nomeada conforme contrato assinado com a Emirates.
Além dos naming rights da competição, a companhia aérea também passará a estampar os uniformes dos árbitros a partir do próximo All-Star Game, que será disputado em São Francisco, no Chase Center, arena do Golden State Warriors.
Embora o valor pago pela Emirates não tenha sido divulgado, estima-se que o acordo renderá cerca de US$ 500 milhões por ano em receitas de patrocínio.
A primeira edição da Copa da NBA ficou marcada pelo público recorde para o mês de novembro e por uma audiência 26% maior em relação aos jogos disputados no mesmo período do ano anterior (2022).
Em resumo, um sucesso que promete se repetir. Tanto é verdade que a NBA considera utilizar, no All-Star Game, a mesma fórmula de torneio eliminatório. Seriam três times com oito All-Stars cada e um quarto time vindo do vencedor da partida entre os novatos e os jogadores que estão em seu segundo ano na liga.
No caso da Emirates NBA Cup, as “noites de Copa” ocorrem, na primeira fase, sempre às terças e sextas-feiras, com os jogos valendo também para determinar a classificação da temporada regular. As trinta equipes foram divididas em seis grupos e cada time jogará contra os adversários do grupo uma vez. Oito equipes avançam para a fase eliminatória (os vencedores de cada grupo mais os melhores segundos colocados de cada conferência).
Após as quartas de final, que serão jogadas nos dias 10 e 11 de dezembro, a T-Mobile Arena, em Las Vegas, receberá as semifinais em um sábado, 14 de dezembro, e a grande final três dias depois. Somente o último e decisivo jogo da Emirates NBA Cup não valerá no cômputo de vitórias e derrotas da temporada regular.
Embora não possam ser vistos como o único fator para o bom nível de competitividade da edição inaugural, os prêmios em dinheiro não deixam de ser um atrativo adicional. Jogadores dos times que perderem nas quartas de final receberão US$ 51.497 cada um. Já os derrotados nas semifinais levarão US$ 102.994 para casa. Os vice-campeões embolsam, individualmente, US$ 205.988. Os campeões, além de medalhas, ficam com US$ 514.971.
Para medir o impacto dessa premiação no bolso dos atletas, considere-se que, dos 440 jogadores cujos salários são conhecidos publicamente, 278 deles, ou seja, 63%, ganharão menos de US$ 10 milhões na temporada 2024-25. Para esses, o título da Emirates NBA Cup equivalerá a um bônus de 5%.
Tendo em vista unicamente salários e patrocínios, os quinze atletas que mais faturam atualmente na NBA são nomes conhecidos, alguns dos quais recebem mais dinheiro das marcas que anunciam do que das franquias em que atuam.
É o caso do líder da lista, Stephen Curry, que receberá quase US$ 156 milhões nesta temporada, sendo “apenas” US$ 55,8 milhões pagos pelo Golden State Warriors.
O mesmo vale para LeBron James (US$ 48,7 milhões do Los Angeles Lakers, US$ 85 milhões dos parceiros comerciais) e Giannis Antetokounmpo (US$ 48,8 milhões do Milwaukee Bucks, US$ 55 milhões dos patrocinadores). Kevin Durant chega perto, com US$ 49,9 milhões do Phoenix Suns e US$ 48 milhões do mercado publicitário.
Os eventuais 5% de bônus parecem muito pouco para esses e para os demais jogadores cujos salários superam os US$ 40 milhões por temporada (Damian Lillard, Joel Embiid, Nikola Jokić, Devin Booker, Paul George, Bradley Beal, Jimmy Butler, Kawhi Leonard, Luka Dončić, Shai Gilgeous-Alexander e Zion Williamson). No entanto, quando a questão tributária entra em perspectiva, a percepção pode mudar um pouco.
Em texto anterior da coluna, explicamos a lógica do chamado jock tax, tributo cobrado dos atletas quando eles viajam para atuar “fora de casa” em outros estados norte-americanos.
Embora a origem do jock tax remonte à década de 1960 e alguns estados já o cobrassem nos anos 80, esse tributo se popularizou a partir de 1991, quando Michael Jordan e o Chicago Bulls visitaram o Los Angeles Lakers, de Magic Johnson, nas finais da NBA.
Após derrotarem a equipe local e permanecerem na Califórnia para celebrar o título, Jordan e seus “asseclas” foram notificados de que os ganhos obtidos durante o período em que permaneceram em território “inimigo” seriam tributados.
Na sequência, John Cullerton, Senador de Illinois, defendeu os seus conterrâneos residentes em Chicago e propôs uma lei semelhante, com cobrança restrita aos jogadores regidos por jurisdições que também exigiam o jock tax.
Pagos por atletas, treinadores, médicos e outros profissionais de comissões técnicas que viajam pelos Estados Unidos, o jock tax ganhou relevância e passou a ser cobrado por todos os estados que sediam uma equipe esportiva profissional e que exigem imposto de renda estadual.
Além dos estados, há municípios que igualmente tributam qualquer esportista não residente que participe de eventos para os quais sejam vendidos ingressos e que ocorram em ginásios ou estádios financiados por um ente público.
O cálculo do jock tax leva em conta o conceito de dias de serviço, abrangendo treinamentos, jogos e até mesmo certas atividades nas intertemporadas. Grosso modo, multiplica-se o salário anual do atleta pelo número de dias de serviço em que ele atuou “fora de casa”, dividindo-se o resultado pela quantidade de dias de serviço daquele atleta e multiplicando-se por uma alíquota específica, que varia de estado para estado.
A fim de facilitar a arrecadação, a fonte pagadora é quem faz a retenção do tributo, repassando-o posteriormente ao estado que faz jus àquela receita. Como as equipes normalmente jogam um número igual de jogos como mandantes e como visitantes, chega-se a um relativo equilíbrio, ainda que alguns excessos já tenham tido a respectiva (in)constitucionalidade questionada nos Tribunais.
Calcular a carga tributária real suportada por cada atleta é uma tarefa bastante complexa, pois existe a possibilidade de dedução de despesas e variações em razão da escolha da residência fiscal.
Somando-se o jock tax às tributações federal e estadual sobre a renda, o fato é que muitos dos jogadores mais bem pagos da NBA ficam com muito menos dinheiro do que se imagina.
Quando Jaylen Brown se tornou, temporariamente, o atleta mais bem pago da liga ao estender seu contrato com o Boston Celtics, garantindo a quantia recorde de US$ 304 milhões, ele certamente levou em conta que, desse montante, 5% incidentes sobre o primeiro US$ 1 milhão e 9% incidentes sobre os milhões restantes ficariam com o estado de Massachusetts. E isso apenas a título de imposto de renda estadual.
O citado Giannis Antetokounmpo paga um imposto de renda progressivo ao estado de Wisconsin a uma alíquota que pode chegar a aproximadamente 7,65%.
Outros atletas aqui mencionados, como Joel Embiid e Paul George, do Philadelphia 76ers, sofrem menos, já que a Pensilvânia pratica uma das mais baixas alíquotas fixas do imposto de renda estadual, de aproximadamente 3,07%. Nikola Jokić também tem “sorte”, pagando cerca de 4,5% no Colorado.
Outros “sortudos” são Jimmy Butler (Miami) e Luka Dončić (Dallas), pois a Flórida e o Texas são tidos como “paraísos fiscais” por não cobrarem o imposto de renda estadual.
Ao trocar o Cleveland Cavaliers, de Ohio, em que a alíquota é de cerca de 3,75%, pelo Los Angeles Lakers, da Califórnia, LeBron James passou a pagar 13,3%, uma das maiores alíquotas do país. No caso do mais famoso atleta em atividade na NBA, porém, não há motivo para estresse: LeBron é considerado o primeiro esportista a se tornar bilionário enquanto ainda em atividade.
Assim, à exceção de LeBron James e de uma dúzia de basqueteiros multimilionários, os US$ 514.971 pagos aos vencedores da Emirates NBA Cup acabam sendo um ativo atraente e, no mínimo, um alívio bem-vindo.
Quem sabe esse dinheiro não sirva, ironicamente, ao menos para pagar os honorários de advogados tributaristas e contadores, profissionais com expertise suficiente para elaborar um planejamento tributário eficiente.
Para ilustrar com um exemplo da MLB, Shohei Ohtani, maior astro do beisebol na atualidade, economizará algo próximo de US$ 100 milhões em tributos no histórico contrato de US$ 700 milhões assinado com o Los Angeles Dodgers, o qual já foi objeto de estudo aqui na coluna.
Para Ohtani, pagar 0,5% do valor economizado para remunerar assessores jurídicos e contábeis seria uma “pechincha”, afinal…
Uma ideia tão boa quanto a Emirates NBA Cup.
Crédito imagem: Brian Babineau/NBAE via Getty Images
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