Paris é logo ali! E, enquanto esperamos pelos Jogos Olímpicos de 2024, outros temas importantes merecem nossa atenção.
No dia 16 de julho, ao comentar sobre o novo acordo de direitos de mídia que pagará US$ 76 bilhões à NBA, assunto que temos abordado há tempos, o comissário Adam Silver, também personagem frequente na coluna, falou sobre o próximo grande desafio da liga, a expansão do número de franquias:
“Ainda não terminamos nossos acordos de mídia, mas, quando terminarmos, consideraremos a expansão. Direi que é um pouco mais complicado do que às vezes se sugere. (…) Pode parecer que estamos ‘imprimindo dinheiro’ quando expandimos; contudo, na verdade, não é tão diferente de vender ações do seu negócio. Portanto, acho que é necessário que haja uma boa modelagem, (…) trabalhando com os proprietários atuais das equipes e realmente pensando nas perspectivas de longo prazo”.
Em nome do tão almejado equilíbrio competitivo, deve haver um grande cuidado, por exemplo, com o aspecto da diluição de talentos.
Dá para manter o nível técnico e a atratividade das partidas com um número significativo de jogadores a mais chegando à liga ano a ano?
Outro ponto crítico é que, atualmente, todas as receitas da NBA são divididas entre as trinta franquias existentes. Ou seja, haverá, com a expansão, mais gente com direito a uma “fatia do bolo”.
Para os grupos ou indivíduos que já são donos das equipes, a forma de compensar essa maior divisão do “bolo” é o pagamento, pelos novos entrantes, de uma espécie de “taxa de expansão”. Chegar ao valor dela, porém, é algo bastante complexo.
Além da “taxa de expansão”, os chamados “governadores” precisam ser seduzidos pelas perspectivas de ganhos com o acréscimo de, provavelmente, outros dois mercados aptos a receber jogos, ativações e o interesse de patrocinadores.
Comenta-se, nos bastidores, que Seattle e Las Vegas seriam as favoritas para sediar os times de expansão, com a Cidade do México “correndo por fora”.
Planos de expansão à parte, frutos já vêm sendo colhidos na esteira do acordo bilionário firmado entre a NBA, a Disney, a NBC e a Amazon (ainda está pendente a possibilidade de a Warner Bros. Discovery, controladora da TNT Sports, exercer um suposto direito de preferência na aquisição de parte dos direitos de transmissão negociados pela liga).
Quais frutos? Bem, como noticiado pelo portal Sportico, a WNBA deve fazer jus a US$ 2,2 bilhões ao longo das onze temporadas abrangidas pelo “gordo” contrato de US$ 76 bilhões negociado pela NBA. Isso representaria US$ 200 milhões por temporada, valor seis vezes maior quando comparado ao do acordo anterior que a liga feminina detinha.
Em termos percentuais, levando-se em conta os direitos de mídia combinados da NBA e da WNBA, esta passaria a deter 3% das receitas, em vez do 1% que detém hoje.
Especula-se, ainda, que o valor pago à WNBA poderá ser revisto após três anos, um claro sinal de que o mercado reconhece o potencial de crescimento do produto. Adicionalmente, outros dois pacotes de jogos seriam comercializados por cerca de US$ 60 milhões, investidos pela CBS e pela Ion, que se juntariam à ESPN nas transmissões.
A maior visibilidade e o consequente ganho de relevância econômica podem ser celebrados como alguns dos maiores feitos dos 28 anos de história da liga de basquete feminino.
A ressalva é que nem todo esse dinheiro irá diretamente para as franquias. Além da própria NBA, parte da quantia irá para um grupo de investidores estratégicos que, em 2022, aportou US$ 75 milhões na WNBA.
Há, dentre tais investidores, nomes conhecidos como Nike, Michael Dell (fundador da empresa de computadores que leva o seu sobrenome), Susan “Dee” Haslam (coproprietária do Cleveland Browns, da NFL), Condoleezza Rice (ex-Secretária de Estado), Micky Arison (um dos proprietários do Miami Heat) e Laurene Powell Jobs (viúva de Steve Jobs).
Proprietários tanto de equipes da NBA quanto da WNBA, como Ted Leonsis (Washington Wizards/Washington Spirit), Joe Tsai (Brooklyn Nets/New York Liberty) e Herb Simon (Indiana Pacers/Indiana Fever) também sairão ganhando.
Na prática, somente 42% das receitas obtidas devem ficar com as franquias e, indiretamente, com as jogadoras da WNBA, como a fenomenal Caitlin Clark, apontada por 81% dos novos fãs como a principal razão pelo interesse na liga.
Por falar em Caitlin Clark, uma das recentes celeumas no noticiário esportivo dos Estados Unidos foi a ausência dela na convocação para a seleção feminina de basquete que tentará, em Paris, conquistar a 10ª medalha de ouro olímpica.
Se, por um lado, os torcedores e admiradores do “Team USA” não terão a chance de ver Caitlin Clark em ação, eles poderão conferir, por outro lado, a parceria entre a dupla que mais mobilizou holofotes na última década da NBA: LeBron James e Stephen Curry.
Nascidos com quatro anos de diferença em um mesmo hospital de Akron, Ohio, LeBron e Curry estarão em quadra, lado a lado, pela primeira vez (sem contar momentos eventuais no All-Star Game).
Era agosto de 2023 quando, acredita-se, LeBron entrou em contato com Curry a fim de recrutar o maior arremessador de todos os tempos para a aventura olímpica.
Curry, evidentemente, disse sim. Será a estreia dele em Jogos Olímpicos. LeBron já possui dois ouros, em 2008 e 2012.
Como o Los Angeles Lakers e o Golden State Warriors já não figuram entre os mais cotados para vencer o título da NBA, talvez tenhamos a última oportunidade de ver LeBron e Curry no lugar mais alto de um pódio.
Talvez, definitivamente talvez. Nunca duvidemos de quem tanto conseguiu ao longo de gloriosas carreiras.
Rivais ferrenhos durante os anos nos quais se enfrentaram em quatro finais consecutivas (2015 a 2018), a sensação de quem acompanha os amistosos e treinamentos do “Dream Team 2.0” é de que não existe mais nenhuma tensão entre eles.
Falando sobre a rivalidade, Curry a descreveu como “um ressentimento saudável por alguém que está no seu caminho”, com “o maior respeito por quem ele é como pessoa e como jogador” e “o desafio de tentar vencê-lo (…) todos os anos”.
Para LeBron, o momento é de desfrutar da parceria:
“O jogo de basquete não dura para sempre. Você não quer desperdiçar a oportunidade de ter um relacionamento com alguém. Muitos de vocês talvez [pensem que] não deveríamos gostar um do outro (…). Dizem que Michael [Jordan] nunca conversou com nenhum de seus oponentes, mas também sou inteligente o suficiente para saber que ele e Charles Barkley conversaram muito durante as finais de 93 e que também jogaram golfe um contra o outro. Então, não quero perder esses momentos [com Stephen Curry]”.
Ressalvada a menção honrosa a Larry Bird, se o planeta assistiu, encantado, o “desfile” do trio Magic Johnson, Michael Jordan e Charles Barkley nos Jogos Olímpicos de Barcelona em 1992 (eu, inclusive), as Olimpíadas de 2024 oferecerão ao mundo outro trio que foi (e que ainda é) o retrato de uma era: LeBron James, Stephen Curry e Kevin Durant.
E é Durant, líder histórico da seleção norte-americana em Jogos Olímpicos nos quesitos pontuação (435), média de pontos (19.8 pontos por jogo), arremessos de quadra (146), arremessos de três pontos (74) e lances livres (69) quem descreve:
“Acho que esse nível de respeito [entre LeBron e Curry] sobe ainda mais. Acho que eles se tornaram mais amigos agora do que quando passaram por aquela experiência, competindo entre si e sendo rivais, se é que podemos chamar assim. Você pode ver isso, você pode ver o quanto eles se respeitam”.
Se LeBron James e Stephen Curry estão curtindo, quem somos nós para não curtir…
Que bom que Paris é logo ali!
Crédito imagem: Ethan Miller / Getty Images
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