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“Adam Silver é um gênio, é simples assim”

Estas palavras não são minhas.

São de LeBron James, um dos maiores atletas de todos os tempos e, provavelmente, a figura mais importante da NBA no século 21 (e isso não é pouco, pois a concorrência é pesada).

No último sábado, dia 27 de janeiro de 2024, o jornalista Adrian Wojnarowski, responsável pelos principais “furos de reportagem” quando o assunto são os bastidores da liga, divulgou que Adam Silver chegou a um acordo para renovar o próprio contrato por um prazo que, especula-se, manterá o atual comissário no cargo até o final desta década.

Silver, um advogado de 61 anos nascido nos arredores de Nova Iorque e graduado em Direito pela Universidade de Chicago, vem exercendo as funções de comissário da NBA desde fevereiro de 2014 (ele começou a trabalhar na liga em 1992).

Sucessor do lendário David Stern, Adam Silver foi colocado à prova logo após assumir aquela que é uma das mais prestigiosas posições executivas do esporte mundial: com menos de três meses como comissário, coube a ele a tarefa de banir perpetuamente Donald Sterling, ex-proprietário do Los Angeles Clippers que, comprovadamente, praticava atos racistas.

Ainda em 2014, Silver publicou uma corajosa coluna no New York Times sobre a legalização e regulação das apostas esportivas, algo que ainda causava imensa insegurança no ecossistema esportivo norte-americano.

Naquele momento, apostar em esportes era algo permitido somente no estado de Nevada, onde está situada Las Vegas, “o paraíso” das apostas.

No texto, Adam Silver escreveu:

“Durante mais de duas décadas, a NBA se opôs à expansão das apostas esportivas legais, tal como o fizeram as outras grandes ligas esportivas profissionais dos Estados Unidos. Em 1992, as ligas apoiaram a aprovação, pelo Congresso, da Lei de Proteção ao Esporte Profissional e Amador, que, em termos gerais, proíbe os estados de autorizar apostas esportivas.

Porém, apesar das restrições legais, as apostas esportivas continuam ocorrendo (…), especialmente por meio de sites offshore obscuros. (…)

Os tempos mudaram desde que a Lei de Proteção ao Esporte Profissional e Amador foi promulgada. Os jogos de azar tornaram-se, cada vez mais, uma forma de entretenimento popular e aceita (…). A maioria dos estados oferece loterias. Mais da metade deles têm cassinos legais. Três aprovaram alguma forma de jogo na Internet, com outros prestes a seguir o exemplo.

Existe um apetite óbvio entre os fãs por uma forma segura e legal de apostar em eventos esportivos profissionais. (…) Fora dos Estados Unidos, as apostas esportivas e outras formas de jogos de azar são também populares (…). Na Inglaterra, por exemplo, uma aposta esportiva pode ser feita no smartphone, no quiosque do estádio ou até mesmo pelo controle remoto da televisão.

À luz dessas tendências nacionais e globais, as leis sobre apostas esportivas devem ser alteradas. O Congresso deve estabelecer uma estrutura normativa federal que permita aos estados autorizar apostas em esportes profissionais, desde que estabelecidos requisitos regulamentares rigorosos e salvaguardas tecnológicas.

Esses requisitos incluiriam: monitorização e comunicação obrigatórias de movimentos incomuns nas linhas de apostas; um protocolo de licenciamento para garantir que os operadores de apostas sejam legítimos; medidas de verificação da idade mínima; tecnologia de bloqueio geográfico para garantir que as apostas só estejam disponíveis onde forem legais; mecanismos para identificar e excluir pessoas com problemas de jogo; e educação sobre jogo responsável.

(…)

Deixe-me ser claro: qualquer nova abordagem deve garantir a integridade do jogo. Uma das minhas responsabilidades mais importantes como comissário da NBA é proteger a integridade do basquete profissional e preservar a confiança do público na liga e no nosso esporte. Oponho-me a qualquer ação que comprometa esses objetivos.

Mas acredito que as apostas esportivas devem sair do subsolo e ir para a luz do sol, onde possam ser devidamente monitorizadas e regulamentadas.

Na atualidade, esse discurso soa natural. Depois de uma decisão da Suprema Corte em 2018, o mercado de apostas esportivas cresceu de forma absurda nos Estados Unidos. Em 2023, os valores alcançaram o patamar de US$ 100 bilhões anuais. No Brasil e no mundo, como se sabe, o crescimento do setor é igualmente vertiginoso.

Falar sobre isso em 2014, no entanto, ainda era tabu. E, apesar do evidente interesse econômico da NBA no dinheiro das apostas, a postura de Silver foi, para a época, bastante ousada.

De lá para cá, são creditadas às habilidades políticas de Adam Silver medidas que representaram sucesso esportivo e comercial para a liga, como a criação do NBA In-Season Tournament (a “Copa da NBA”), a introdução dos torneios play-in, a nova Política de Participação de Jogadores e mudanças na loteria do Draft.

Em termos de gestão de crise, não faltam bons exemplos da atuação assertiva de Silver ao longo destes quase 10 anos.

Além do já citado episódio Donald Sterling, ele teve de lidar com o caso Robert Sarver (que se viu forçado a vender o Phoenix Suns após denúncias de racismo, assédio sexual e discriminação de gênero feitas por dezenas de funcionários e ex-funcionários), com as polêmicas envolvendo atletas como Kyrie Irving (suposta apologia ao antissemitismo) e Ja Morant (divulgação de vídeos com armas em redes sociais) e com o imbróglio diplomático causado por declarações de Daryl Morey, general manager do Houston Rockets na ocasião (Morey publicou uma mensagem de apoio a protestos ocorridos em Hong Kong, o que impactou negativamente toda a operação da NBA na China, resultando em prejuízos multimilionários).

O maior emblema da “era Adam Silver”, no entanto, foi a condução firme dos negócios da liga durante a eclosão da pandemia de COVID-19.

Em março de 2020, a NBA se tornou a primeira grande competição esportiva profissional a ser interrompida globalmente, em uma clara demonstração de que a doença era algo sério e que merecia especial atenção.

A retomada dos jogos em uma “bolha sanitária” organizada nas instalações do Walt Disney World, em Orlando, mostrou que, com investimento e protocolos rigorosos, era possível seguir a vida com relativa segurança para todos os envolvidos.

No final de julho de 2020, a “bolha da NBA” foi palco de inúmeras manifestações de apoio ao movimento Black Lives Matter, as quais continuaram ecoando para além das quadras. Nunca os atletas se sentiram tão à vontade para manifestar suas posições em relação a questões sociais sensíveis para eles.

Em um dos mais conturbados períodos da história moderna, portanto, Adam Silver foi um líder no qual os liderados puderam confiar.

Por fim, com o mais recente acordo coletivo de trabalho firmado entre a liga e a associação dos atletas, Silver irá usufruir de uma estabilidade que certamente contribuirá para que, na ambiciosa negociação dos direitos de transmissão da NBA pelos próximos anos, sejam obtidos os valores almejados pela liga, descrita por ele próprio como “a garota mais bonita do baile”.

É claro que existem críticas à postura de Adam Silver. Unanimidade, em tempos de tanta polarização, é um item cada vez mais raro.

Contudo, mesmo entre os detratores do comissário, há o reconhecimento de que, com ele, a NBA continuou crescendo em importância econômica e cultural.

O movimento iniciado por David Stern décadas atrás, impulsionado por Michael Jordan e pelo Dream Team, continua, sob a batuta de Adam Silver, em plena expansão.

Se a NFL quer conquistar o mundo, a NBA já conseguiu.

Crédito imagem: Kathy Willens

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