Como é notório, a NFL quer conquistar o mundo, internacionalizando cada vez mais a sua marca, como a NBA vem fazendo, com maestria, nas últimas décadas.
A exitosa realização do jogo no Brasil no último mês de setembro foi apenas mais um dos muitos passos dados pela liga de futebol americano nesse sentido.
Já a NBA anunciou o retorno à China para jogos de pré-temporada em 2025, algo que não ocorria desde 2019. Naquele ano, uma crise diplomática sem precedentes, com nuances esportivas, foi instaurada entre os países, como você pode ler aqui.
De todo modo, a expansão global não é a única estratégia comum entre a NBA e a NFL. Há uma outra tendência, talvez menos evidente, que vem se materializando de forma bem intensa ultimamente.
Não, não estamos falando das bilionárias (re)negociações com velhos e novos parceiros de mídia.
Tampouco queremos referenciar a inexorável realidade dos universos digitais que invadem as transmissões das partidas.
O tema, aqui, são os investimentos em infraestrutura.
A atual temporada do “melhor basquete do mundo” já está marcada na história pela inauguração do imponente Intuit Dome, moderna arena de US$ 2 bilhões de dólares que passou a ser a casa do Los Angeles Clippers.
Com direito a um telão correspondente a 4.000 televisores de 60 polegadas, à maior quantidade de banheiros já vista em um equipamento dessa natureza e a uma arquibancada vertical inspirada na “Muralha Amarela” do Borussia Dortmund, as instalações incluem cerca de 8.000 m2 dedicados exclusivamente ao treinamento dos atletas.
Além da iniciativa do Clippers, o Cleveland Cavaliers anunciou o lançamento de um novo centro de treinamentos de primeira classe, o Cleveland Clinic Global Peak Performance Center, cuja inauguração está prevista para 2027. Será o maior espaço de tal tipo na NBA, com mais de 19.000 m2.
Como mostra uma ótima matéria do jornalista Josh Robbins para o The Athletic, 20 das 30 franquias da liga inauguraram instalações de treinamento de 2014 para cá, em uma disputa constante por inovação e excelência, atributos vistos, inclusive, como um diferencial no recrutamento de atletas na free agency.
Em média, esses novos “CTs” custaram entre US$ 70 milhões e US$ 90 milhões, investidos em quadras de basquete, recursos médicos de última geração, ambientes para recuperação física e gastronomia do melhor nível (nutricional, estético e gustativo).
Das estruturas já inauguradas, uma que se destaca é a do Houston Rockets, que estreou em setembro o Memorial Hermann | Houston Rockets Training Center, de 7.000 m2.
Daquelas ainda a serem lançadas, não é só a do Cleveland Cavaliers que chama a atenção. Com início das obras nos próximos meses, o Charlotte Hornets terá, para a temporada 2026-27, uma estrutura de treinamentos de quase 15.000 m2.
O Denver Nuggets e o Washington Wizards também projetam novas casas voltadas para o desempenho esportivo e bem-estar de seus atletas, algo que Chicago Bulls, Detroit Pistons, Indiana Pacers e Atlanta Hawks fizeram há algum tempo.
Vale a pena falar sobre a infraestrutura de Pacers e Hawks. Em Indiana, um túnel subterrâneo liga o “CT” (Ascension St. Vincent Center) à arena utilizada pela equipe (o Gainbridge Fieldhouse). Em Atlanta, jogadores lesionados que estejam sendo tratados no Emory Healthcare têm, no campo de visão, os treinos feitos pelo resto do time, mantendo-se, assim, integrados a todo o processo.
Quem também preza pela integração é o Orlando Magic, com o seu monumental AdventHealth Training Center, repleto de luz natural, jardins e painéis de madeira, com recintos para jantares e para a convivência entre atletas, treinadores e staff.
Essas novas estruturas, mais do que diferenciais competitivos, podem ser consideradas verdadeiras declarações de intenção: “queremos estar no topo”. Ou “queremos voltar para lá”.
Vencedor de cinco títulos da NBA entre 1999 e 2014, o San Antonio Spurs inaugurou, em outubro de 2023, o Victory Capital Performance Center. São 13.000 m2 para anunciar aos concorrentes que, agora liderado por Victor Wembanyama, “o campeão voltou”.
Em 2017, quando Giannis Antetokounmpo começava a viver o seu auge, o Milwaukee Bucks se mudou para o moderno Froedtert & the Medical College of Wisconsin Sports Science Center. Talvez não tenha sido somente pelo talento em quadra que a franquia encerrou, em 2021, um jejum de 50 anos sem conquistar a NBA.
Na NFL, o New England Patriots dará início, neste mês de dezembro, à construção, ao lado do mítico Gillette Stadium, dos novos edifícios que abrigarão as diversas operações da equipe. Na prática, a infraestrutura irá dobrar de tamanho.
Após receber notas baixas em uma pesquisa anônima feita pela associação dos atletas, a National Football League Players Association (NFLPA), a franquia se movimentou. Uma nota “F” para a sala de musculação, um “C-” para os vestiários e um “C” para o centro de treinamento não são compatíveis com o status de quem venceu seis Super Bowls em vinte anos.
Além de endereçar as críticas atribuídas pelos jogadores da liga, as futuras instalações, cujo projeto levou em conta “palpites” de funcionários da franquia, terá centro de nutrição, esteira subaquática, salas de realidade virtual e uma imponente área para conferências.
Na NFL e na NBA, a competição não se dá exclusivamente nos campos e nas quadras.
Não se engane: essa “corrida armamentista” em termos de infraestrutura é igualmente responsável por decisivos touchdowns e cestas de três.
Crédito imagem: Bria Woods / San Antonio Report
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