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Uma homenagem a Jerry West, o Logo da NBA

Faleceu no último dia 12 de junho, aos 86 anos, uma das maiores lendas do basquete: Jerry West. Alguém cuja história se confunde com a história da própria NBA.

Tendo se destacado já no high school e no esporte universitário, West conquistou a medalha de ouro pelos Estados Unidos nos Jogos Olímpicos de Roma, em 1960.

Dali em diante, no Lakers, ele se consagraria de forma definitiva.

Escolhido na segunda posição do Draft pelo então Minneapolis Lakers, Jerry West, um perfeccionista que flertava com a obsessão, jogou de 1960 a 1974 na equipe roxa e dourada, tendo sido escolhido para o All-Star Game da NBA em todas as temporadas que disputou.

Nomeado doze vezes para o quinteto ideal e cinco vezes entre os melhores defensores da liga, West foi a nove finais, mas conquistou apenas um título como atleta (em 1972).

Isso não o impediu, no entanto, de ficar conhecido como “Mr. Clutch”, pela eficiência nos momentos decisivos das partidas. Até hoje, aliás, West é o único jogador a ser eleito o MVP das finais da NBA sem que sua equipe tenha conquistado o troféu.

Das oito derrotas nas finais, seis foram para o arquirrival Boston Celtics, de Bill Russel, simplesmente o esportista que, junto com Henri Richard, do Montreal Canadiens (NHL), tem mais títulos (11) em uma liga profissional norte-americana. Ou seja, Jerry West enfrentou, naqueles anos, o adversário mais difícil que poderia enfrentar.

Das seis finais perdidas para o Celtics, três foram decidas somente no sétimo jogo. Em duas dessas ocasiões, a diferença no placar foi de apenas uma cesta. Como se não bastasse, em 1962 e 1969 o Lakers liderava a série após cinco jogos, tendo perdido os últimos dois.

Para um competidor ferrenho como West, estar tão perto da glória máxima e deixar de consegui-la tantas vezes cobrou um preço. Em sua autobiografia, West by West: My Charmed, Tormented Life, ele afirma:

Joguei com uma carga emocional e raivosa no ombro e um buraco no coração. Minha pior característica pessoal, de longe, é que espero que todos se importem tanto quanto eu com tudo. Isso é terrível e injusto. Minha vida tem sido tentar descobrir minhas limitações e eu as conheço muito bem.

Após conquistar o tão “suado” troféu, Jerry West não ficou exatamente eufórico. Em Golden Days: West’s Lakers, Steph’s Warriors, and the California Dreamers Who Reinvented Basketball, o autor Jack McCallum revela:

Jerry West, por sua vez, não ficou bêbado, nem acendeu velas, nem cantou hosanas, dizendo que suas orações finalmente haviam sido respondidas. Não. Ele bebeu um pouco de champanhe, é verdade, aceitou todos os parabéns, fez alguns comentários obrigatórios (…), mas voltou para casa e pensou em uma música de Peggy Lee chamada ‘Is That All There Is?’. Ganhar uma depois de já ter perdido tantas finais não encheu seu coração de alegria. ‘A dor de perder’, disse ele repetidamente, ‘é muito mais forte do que a alegria de vencer’”.

Contudo, a amargura de West não era exatamente perceptível para o mundo exterior. O excelente livro Era de Gigantes, do amigo Vitor Camargo, nos ajuda a entender um pouco mais sobre as impressões positivas que todos tinham sobre Jerry West:

(…) um grande astro (…), carismático, que não criava problemas fora de quadra e era adorado pelos outros atletas, fossem companheiros ou rivais. West não era fisicamente superior aos demais jogadores como Oscar, Elgin, Russell ou Wilt, tampouco conseguia jogar acima do aro e com a verticalidade dessas outras estrelas; mesmo assim, ele conseguia dominar a NBA com um jogo que só pode ser descrito como perfeito. Seu arremesso era irretocável, seu drible era muito refinado, sua técnica defensiva impecável, cada movimento em quadra absolutamente preciso e eficiente. West também foi um dos primeiros astros – talvez o primeiro astro – a maximizar o arremesso como uma arma, arremessando de meia e longa distância com grande eficiência e chutando bolas de três pontos antes de sequer existir uma linha de três pontos”.

Em 1974, aos 36 anos, West se aposentou das quadras com números impressionantes em diversas estatísticas. Até hoje, sua média de pontos nos playoffs da NBA só é menor do que a média de outros quatro atletas: Kevin Durant, Allen Iverson, Luka Dončić e, sim, Michael Jordan.

Quando criança, no estado da Virgínia Ocidental, Jerry West não conhecia nenhum negro. No seu ano de novato na liga, ele pediu ao Lakers um colega de quarto que fosse negro. O escolhido foi Ray Felix, primeiro atleta negro a conquistar o prêmio de calouro do ano na NBA.

Na gravação de um podcast com Kareem Abdul-Jabbar, West comentou:

Aprendi mais sobre raça estando perto dele, sobre coisas que ele viu enquanto crescia. Foi uma educação diferente para mim. Isso afetou minha leitura. Procurei livros sobre todos os incríveis líderes minoritários, sobre direitos civis… Era isso o que eu lia depois dos jogos”.

Por essas e outras, foi Jerry West quem serviu de inspiração quando, em 1969, a NBA contratou um especialista em marcas chamado Alan Siegel a fim de que ele criasse um logotipo para a liga (ele já havia feito o mesmo para a MLB no ano anterior).

Oficialmente, o logotipo da NBA é um jogador “anônimo” e sem rosto que conduz uma bola à frente de um fundo vermelho e azul. Extraoficialmente, porém, todos sabem que aquela silhueta é a de Jerry West, baseada em uma foto tirada por Wen Roberts.

Em 2010, o próprio Siegel admitiu a verdade ao jornal Los Angeles Times. Na mesma entrevista, todavia, ele confessou:

Eles querem institucionalizar o símbolo, e não o individualizar. Tornou-se um símbolo clássico e onipresente, um ponto focal da identidade e do programa de licenciamento da liga. Eles não querem necessariamente identificá-lo com um só jogador”.

A explicação pode ser outra: o fotógrafo Wen Roberts (falecido em 2007) ou mesmo Jerry West poderiam querer cobrar algum valor pela reprodução do logo em incontáveis produtos, serviços e ambientes espalhados ao redor do mundo ao longo de décadas, com efeitos financeiros para o futuro. De um jeito ou de outro, esse não foi o caminho seguido pelos herdeiros de Roberts, por West e, agora, pelos herdeiros deste.

Em 2021, Adam Silver, o comissário da NBA, finalmente admitiu que, “embora nunca tenha sido declarado oficialmente que o logotipo é Jerry West, com certeza se parece muito com ele”.

Por tal razão, além de “Mr. Clutch”, West é também conhecido como “O Logo”. Nada mais apropriado.

Depois de dois anos afastado do basquete, Jerry West tornou-se treinador do Los Angeles Lakers antes da temporada 1976-77. Em três campanhas no comando, teve um recorde positivo (145 vitórias e 101 derrotas).

No ano de 1979, West foi eleito para o Hall da Fama do Basquete. E não parou por aí.

Após permanecer como olheiro por um período, ele assumiu como General Manager do Lakers em 1982, sendo um dos arquitetos da dinastia da equipe na década de 1980, com cinco conquistas em nove finais disputadas.

Na função de gestor, pela qual foi premiado pela NBA como Executivo do Ano em 1995, foi Jerry West quem contratou Shaquille O’Neal como agente livre. Foi ele também quem fez a negociação para assinar com Kobe Bryant, selecionado no Draft de 1996 pelo Charlotte Hornets.

Kobe e “Shaq” foram os grandes responsáveis, dentro das quadras, pelos três títulos consecutivos do Los Angeles Lakers entre 2000 e 2002, com direito a mais uma aparição nas finais, em 2004. Outra dinastia que contou com os serviços de West.

Após trabalhar no Lakers por mais de 40 anos, Jerry West se aposentou da função gerencial. Pouco depois, entretanto, o espírito competitivo falou mais alto e ele se tornou Presidente de Operações de basquete do Memphis Grizzlies, franquia na qual permaneceu por cinco anos, até 2007.

No mês de maio de 2011, West foi contratado como um conselheiro pelo Golden State Warriors. Durante mais de seis anos, ele foi o mentor de Bob Myers, eleito Executivo do Ano pela NBA após a temporada regular de 2014-15, quando a equipe da baía de São Francisco venceu o primeiro dos quatro títulos obtidos pela franquia em oito anos. Portanto, eis mais uma dinastia que contou com as “impressões digitais” de Jerry West.

A última função de West no universo do basquete profissional foi como consultor do Los Angeles Clippers, papel que ele exerceu a partir de 2017.

Seja como atleta, treinador ou dirigente, Jerry West deixou uma marca profunda na NBA, o que não afetou a desconcertante humildade dele ao falar sobre si mesmo e sobre o fato de ser “O Logo”:

Eu gostaria que nunca tivesse sido divulgado que eu sou o logotipo, realmente gostaria. Eu já disse isso mais de uma vez. É lisonjeiro se for eu, e eu sei que sou eu. Mas [só fui escolhido porque] joguei na época em que eles começaram a tentar comercializar a liga. (…) Realmente não gosto de fazer nada para chamar a atenção para mim mesmo (…). Se eles quisessem mudar isso, eu gostaria que o fizessem. De muitas maneiras, eu gostaria que o fizessem“.

Dificilmente tal mudança irá acontecer. Como escreveu o jornalista Sam Quinn, “do ponto de vista comercial, é complicado imaginar que a NBA faça qualquer alteração. O logotipo tornou-se indistinguível da marca e da história da liga”.

Mesmo que um dia seja feita uma modificação, Jerry West é e sempre será “O Logo”, somente um dos vários motivos pelos quais ele deve ser carinhosamente lembrado e reverenciado, para sempre, por todos os que amam o basquete e a NBA.

Descanse em paz.

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