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Uma semana importante para a história da NBA

Vão começar os playoffs da NBA, que irão definir o campeão da temporada 2023-2024. Mas a importância desta semana para a história da liga vai além das disputas em quadra.

Na última quarta-feira, dia 17 de abril, o comissário Adam Silver aplicou a punição mais rigorosa das últimas décadas, banindo, para sempre, o atleta Jontay Porter, do Toronto Raptors, de qualquer envolvimento com a NBA.

Como noticiado pelo Lei em Campo, uma investigação constatou que Porter, de 24 anos, cometeu ao menos três violações que, sozinhas, já seriam suficientes para resultar no seu banimento perpétuo.

Em razão da péssima campanha de sua equipe, que trocou peças relevantes do elenco e parecia mais interessada em obter uma boa posição no próximo Draft, o jogador, inclusive, vinha tendo mais oportunidades recentemente.

Ocorre que, em vez de aproveitar os minutos em quadra para lutar legitimamente por relevância na liga, caminho natural de quem quer obter reconhecimento esportivo e, consequentemente, reconhecimento financeiro, Porter preferiu seguir por outra direção.

Além de revelar a um apostador informações confidenciais sobre suas próprias condições físicas antes de um jogo contra o Sacramento Kings no dia 20 de março, o que culminou com uma aposta de US$ 80 mil que levaria a um prêmio de US$ 1,1 milhão (o qual não foi pago em virtude das suspeitas que a situação levantou), Porter apostou, de janeiro a março de 2024, cerca US$ 54 mil em 13 partidas da NBA.

Os ganhos foram de pouco mais de US$ 76 mil, um lucro de aproximadamente US$ 22 mil. As apostas foram feitas por meio da conta online de uma pessoa próxima ao jogador e envolviam combinações de resultados de mais de uma equipe, as quais incluíam até mesmo derrotas do próprio Raptors.

Sim, Jontay Porter pretendia ganhar dinheiro apostando contra o próprio time. E pouco importa que ele não tenha atuado nesses jogos. Tal conduta, vinda de um atleta profissional, é verdadeiramente repugnante.

Porter sofreu graves lesões no basquete universitário, conseguiu chegar à principal liga do mundo, teve uma breve passagem pelo Memphis Grizzlies na temporada 2020-2021, foi dispensado, passou um bom tempo na G League e, de forma até surpreendente, conseguiu uma nova chance. Agora, qualquer oportunidade de construir uma carreira na NBA está fulminada para sempre.

A pergunta que ele e todos ao redor devem estar se fazendo é: valeu a pena?

Jontay Porter é o primeiro jogador ativo a ser expulso da liga desde 1954 e os comportamentos que levaram à sua exclusão lançam luz sobre os crescentes riscos relacionados às apostas esportivas, reforçando a necessidade de mecanismos eficazes para um monitoramento implacável.

No episódio que quase resultou no pagamento do prêmio de US$ 1,1 milhão, por exemplo, o atleta permaneceu em quadra por apenas três minutos, alegando um mal-estar. Como o apostador, tendo conversado com Porter previamente ao jogo, sabia que isso poderia acontecer, o cenário permitiu apostas combinadas que tinham, como um dos componentes, estatísticas quase nulas do jogador naquela noite.

O quão fácil (ou difícil) é acompanhar situações tão específicas quanto o mau desempenho de um atleta e verificar se há apostas vinculadas a elas?

Para ilustrar, diante das inúmeras plataformas hoje disponíveis, é bastante factível que alguém possa propor uma aposta combinada que envolva o fato de um determinado atleta não acertar nenhum arremesso e não pegar nenhum rebote em um quarto específico do jogo. Como detectar a fraude se é perfeitamente possível que um jogador passe alguns minutos sem produzir pontos ou rebotes simplesmente por estar tendo uma jornada ruim no trabalho?

As ferramentas tecnológicas e a inteligência artificial estão por aí e a NBA, no caso, foi rápida e eficiente em descobrir as irregularidades, o que talvez seja uma amostra da importância da evidence sharing clause incluída no vigente acordo coletivo de trabalho que rege a liga.

Todavia, assim como outros casos, a história de Jontay Porter não deixa de causar certa apreensão em todo o ecossistema do esporte profissional.

Ao se pronunciar sobre o fato, Adam Silver declarou:

Não há nada mais importante do que proteger a integridade das competições para nossos fãs, nossos times e todos os associados ao nosso esporte, e é por isso que as flagrantes violações cometidas por Jontay Porter estão sendo punidas da maneira mais severa. Embora as apostas esportivas legais criem transparência que ajuda a identificar atividades suspeitas ou anormais, este caso também suscita discussões importantes sobre a suficiência da regulamentação atualmente em vigor, incluindo os tipos de apostas oferecidas nos nossos jogos. Trabalhando em estreita colaboração com todas as partes interessadas (…), continuaremos a atuar diligentemente para proteger a nossa liga e o nosso esporte.”

Desde 2018, quando a decisão da Suprema Corte em Murphy v. NCAA derrubou nos Estados Unidos a chamada Lei de Proteção ao Esporte Profissional e Amador, a qual impedia os estados de permitirem apostas esportivas, trinta e oito deles, além de Washington D.C, legalizaram a prática.

O “efeito dominó” foi impressionante e todas as ligas profissionais norte-americanas correram atrás de acordos comerciais lucrativos com casas de apostas.

Isso permitiu, aliás, que a NFL, com certa naturalidade outrora inimaginável, passasse a ter uma franquia em Las Vegas, cidade que recebeu o Super Bowl em 2024. A própria NBA, além de haver instituído a NBABet, é parceira da FanDuel, da BetMGM e da DraftKings.

Por falar em DraftKings, no texto sobre o contrato assinado entre ela e LeBron James, propusemos as seguintes reflexões:

As ferramentas de fiscalização e controle serão suficientes em face da pulverização de ativações publicitárias [de casas de apostas] em diversas redes sociais?

Com um volume tão substancial de apostas ocorrendo o tempo todo e um número expressivo de atletas na liga, que fatalmente seguirão os passos de LeBron, a quantidade de não conformidades será proporcionalmente grande e complexa de gerenciar?

Por ora, só temos as perguntas”.

Felizmente, após o banimento de Jontay Porter, podemos encontrar e compartilhar algumas repostas positivas, pois a NBA, inegavelmente, foi hábil em concluir os trabalhos investigativos e em punir com a maior severidade possível um atleta que “pisou fora da linha”.

Mas será que a mesma condução teria sido possível se, em vez de um reserva do Toronto Raptors, o jogador envolvido fosse alguém de maior destaque? Nesse ponto, pode-se dizer que a liga deu sorte.

Estabelecer um precedente a partir da punição a Porter é bem mais simples do que lidar com controvérsias relacionadas a nomes mais midiáticos. A MLB, com Shohei Ohtani, sabe bem disso.

Além da preservação da imagem e das percepções do mercado, há questões delicadas em outras frentes também. Nos últimos meses, atletas e treinadores da NBA disseram ter sido questionados, pessoalmente e por redes sociais, por apostadores frustrados com apostas que não deram retorno.

O técnico do Cleveland Cavaliers, J.B. Bickerstaff, chegou a receber mensagens ameaçadoras em seu celular pessoal, nas quais apostadores faziam referência aos filhos e ao endereço do treinador no subúrbio de Cleveland.

Ainda há, enfim, muito a ser construído…

Se a NBA se recuperou da traumática crise com Tim Donaghy, existem razões para acreditar que a liga sairá mais madura e mais forte após o banimento perpétuo de Jontay Porter.

Após o desgaste gerado pelo caso, nada melhor do que uma boa notícia para melhorar os ânimos de Adam Silver e companhia, certo? Lembra-se da alusão à “garota mais bonita do baile” em nossa coluna sobre a próxima negociação dos direitos de transmissão da NBA?

Bem, acaba na próxima semana a “janela” de exclusividade para que os atuais parceiros de mídia da liga, Disney (controladora da ESPN e da ABC) e Warner Bros. Discovery (dona da TNT), negociem a continuidade do contrato que pagou à NBA, nos últimos nove anos, cerca de US$ 2.7 bilhões por temporada.

E, de acordo com uma matéria do The Athletic, a tendência é que não haja a renovação dentro do prazo, de modo que estará aberta, daí em diante, uma livre concorrência com a participação dos demais interessados. O resultado disso é que passa a haver, no horizonte, um “caminhão” ainda maior de dinheiro pela frente. Amazon e NBC são as mais cotadas para pagar o que, especula-se, será a nova pedida da liga: ao menos US$ 75 bilhões.

Por bem ou por mal, a NBA nunca se esquecerá desta semana de abril de 2024.

Crédito imagem: Getty Images

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