Após o encerramento da excelente competição de basquete dos Jogos Olímpicos, podemos olhar em retrospectiva para algumas situações das quais tratamos nos textos mais recentes da coluna.
De fato, a seleção brasileira mediu forças em Paris. Tendo como ponto alto da campanha uma convincente vitória contra o Japão, o Brasil fez um papel digno diante da França, medalhista de prata, e da Alemanha, semifinalista.
A possibilidade de enfrentarmos os Estados Unidos, enfim, se concretizou. O time brasileiro foi derrotado de maneira categórica, mas o jogo, em si, representou uma ótima oportunidade para que meros espectadores casuais passem a ser, daqui em diante, novos fãs da modalidade.
Aliás, quem assistiu a semifinal entre a Sérvia e os “Vingadores”, como a seleção norte-americana se autointitulou, provavelmente ficou com vontade de continuar acompanhando, no futuro, o basquete jogado no mais alto nível.
Com Nikola Jokić determinado a liderar os sérvios a uma vitória histórica, foi necessária uma atuação heroica de Stephen Curry, LeBron James e Kevin Durant, o trio que define a era mais recente da NBA, para que os Estados Unidos virassem a partida e passassem à final. É, o apelido “Vingadores” faz um certo sentido…
No jogo decisivo, o gigante Victor Wembanyama e os excelentes coadjuvantes da equipe francesa, simbolizados em Guerschon Yabusele, exigiram que Curry executasse, nos minutos finais, quatro arremessos mágicos de três pontos para selar a vitória e garantir a quinta medalha de ouro seguida para os norte-americanos.
Foi também nos últimos instantes que a seleção de basquete feminina dos Estados Unidos confirmou o favoritismo, com a repetição da França como medalhista de prata.
Em suma, embora a lógica tenha prevalecido e os times mais fortes tenham terminado campeões e invictos, ficou claro que é cada vez menor a distância entre o Team USA e o resto do mundo. São os efeitos implacáveis da globalização no basquete.
A propósito, um exame mais atento mostrará que tais efeitos não se verificam somente dentro das quadras: já no dia seguinte à conclusão das Olimpíadas, Kevin Durant voltava às manchetes, desta vez como novo sócio minoritário do PSG.
Durant, um dos poucos atletas a possuir um contrato vitalício com a Nike, vem se destacando no universo dos negócios como um dos principais expoentes do fenômeno da monetização da fama.
Somando o time de futebol parisiense a um portfólio de investimentos esportivos que já conta com participações no Philadelphia Union (da MLS), no NY/NJ Gotham (da National Women’s Soccer League) e no Brooklyn Aces (da Major League Pickleball), Kevin Durant demonstra que não existem mais fronteiras que não possam ser desbravadas pelas grandes marcas do esporte.
Por falar nisso, e mudando da bola laranja para a bola oval, é exatamente a conquista de novos territórios que nosso país se prepara para assistir nas próximas semanas, com a iminência da partida da NFL que será disputada em São Paulo no início de setembro.
Desde que o anúncio foi feito, em abril, as expectativas só cresceram. Os ingressos, que custaram de R$ 285 a R$ 2.520,00, foram esgotados em poucas horas, com queixas veementes daqueles que, vítimas de alguma instabilidade ou da ineficiência no sistema de vendas, acabaram ficando de fora. Excesso de demanda? Talvez.
O fato é que não resta nenhuma dúvida de que o público do futebol americano no Brasil tem uma capacidade de consumo elevada, que anima a NFL e respectivos parceiros e patrocinadores.
Pacotes turísticos vêm sendo oferecidos nos mais diferentes formatos, sempre na casa dos milhares de reais. Grupos de torcedores se mobilizam em redes sociais para transformar a Neo Química Arena em um pedaço do Lambeau Field (estádio do Green Bay Packers) e do Lincoln Financial Field (estádio do Philadelphia Eagles). E, além do jogo em si, o público poderá vivenciar experiências imersivas no Parque Villa-Lobos, com direito a ativações, clínicas, loja oficial e à possibilidade de tirar fotos com capacetes das equipes, com o troféu Vince Lombardi e com os anéis de campeões do passado da NFL.
O impacto econômico de cerca de US$ 60 milhões e a geração de aproximadamente 5 mil empregos diretos e indiretos prometem ser um baita cartão de visitas para que novos jogos oficiais de ligas internacionais ocorram em terras tupiniquins (alô, NBA!)
Há uma canção da banda britânica Tears for Fears que, dentre outros versos, diz: “não há volta atrás (…), nós vamos te encontrar (…), todos querem dominar o mundo”.
Vale para a NBA dos “Vingadores” que saíram com o ouro de Paris, vale para a NFL que em breve desembarca por aqui para buscar o nosso “ouro”.
Crédito imagem: Damien Meyer/AFP/Getty
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