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Uma retrospectiva da temporada 2022-23 da NBA

Cronômetro zerado, a temporada acabou e a NBA tem um novo campeão. Liderado por Nikola Jokić, outro estrangeiro a despontar na principal liga de basquete do mundo, o Denver Nuggets conquistou o primeiro título de sua história.

Com o fim da competição em quadra, é hora de, assim como fizemos na temporada passada, rememorarmos os fatos mais relevantes para os propósitos desta coluna, aqueles episódios do universo da NBA que dialogaram diretamente com os negócios no esporte e com o Direito Desportivo.

Para começar, destaque-se que o mencionado Denver Nuggets é o quinto campeão diferente nas últimas cinco temporadas. Acasos do esporte à parte, isso é algo notável, que ilustra o sucesso das fórmulas utilizadas pela liga para tentar garantir, ao máximo, o equilíbrio competitivo.

Aliás, temia-se, antes de os jogos começarem no último mês de outubro, que o grau de competitividade da temporada 2022-23 pudesse ser afetado por um desejo acima do normal de algumas franquias de “perder de propósito”, a conduta conhecida como tanking.

O prêmio para quem tivesse as piores campanhas seria uma maior chance de, com escolhas mais altas no Draft, processo de recrutamento que ocorrerá no próximo dia 22 de junho, selecionar atletas capazes de mudar o destino de uma equipe.

O principal candidato a ser esse fator de transformação é um francês. Com mais de 2,20m de altura e qualidades técnicas que jogadores desse tamanho não costumam ter, Victor Wembanyama foi observado de perto ao longo dos últimos meses, com direito a partidas transmitidas ao vivo no aplicativo oficial da NBA.

Melhor ainda que o “cartão de visitas” tenha sido apresentado em pleno território norte-americano: nos amistosos realizados em Las Vegas, sob os olhares de scouts e dirigentes da NBA, “Wemby”, como vem sendo chamado, brilhou.

Com um par de jogos de quase 40 pontos, bom aproveitamento nos arremessos de 3 e uma profusão de tocos e rebotes, o mais novo prodígio europeu a assombrar o mundo do basquete mexeu com o imaginário de diversas torcidas, ansiosas pela perspectiva de vê-lo vestindo a camisa do “time do coração”. Os felizardos serão os torcedores do San Antonio Spurs, franquia que ficou com a primeira escolha do Draft.

De qualquer forma, mesmo com esse “sonho de consumo” no horizonte, as equipes que, teoricamente, tinham incentivos para fazerem campanhas ruins competiram dignamente.

Que bom! Pois a última coisa que a NBA gostaria de enfrentar seria mais um dilema ético, como aquele que culminou com as punições impostas pela liga a Robert Sarver, agora ex-proprietário do Phoenix Suns, suspenso por um ano e multado em US$ 10 milhões após uma investigação concluir pela veracidade das acusações de racismo, assédio sexual e discriminação de gênero feitas por mais de 70 funcionários e ex-funcionários dele.

Como consequência, essa persona non grata acabou vendendo sua participação no Suns, cujo novo acionista majoritário, Mat Ishbia, chegou “fazendo barulho”.

Depois de pagar US$ 4 bilhões naquela que foi a mais cara aquisição de uma equipe na história da NBA, Ishbia contratou Kevin Durant, que figurou nas manchetes ao longo da temporada por diferentes motivos, desde atormentar a vida dos dirigentes do Brooklyn Nets ao lado de seu amigo Kyrie Irving até assinar um contrato vitalício com a Nike.

Por falar em contrato vitalício com a Nike, quem igualmente negociou parte de suas ações em uma franquia, mas em circunstâncias bem mais nobres, foi Michael Jordan. A venda da participação no Charlotte Hornets renderá ao maior jogador de basquete de todos os tempos um lucro estimado em US$ 2,7 bilhões.

Voltando à pauta dos dilemas éticos que marcaram a temporada, foi inevitável discutir o load management. Ao resultar na ausência de atletas importantes em determinados jogos, para desgosto de torcedores e parceiros de mídia que pagam caro justamente pela presença das estrelas em ação, o gerenciamento de carga virou tema recorrente.

Até que ponto é positivo para o produto da NBA um frequente “esvaziamento” do interesse por algumas partidas?

Na iminência da negociação do futuro contrato dos direitos de transmissão da liga, não seria a hora de regulamentar essa questão?

A resposta é sim. E isso já ocorreu.

A NBA e a associação dos atletas anunciaram, em abril, a celebração do novo acordo coletivo de trabalho, o CBA (Collective Bargaining Agreement), no qual ficou estabelecida a necessidade de os jogadores atuarem em ao menos 65 partidas a fim de que possam estar elegíveis para os principais prêmios individuais concedidos pela liga.

Isso irá afetar, por exemplo, o atleta Ja Morant, que recebeu uma suspensão de 25 partidas por aparecer com armas de fogo, de modo reincidente, em redes sociais.

No modelo de negócios da NBA, concorrer a prêmios individuais é algo que impacta o valor dos salários, sendo que (perdoem o trocadilho) Morant já vem sentindo “no bolso” o peso de seus erros.

Embora o texto integral do novo CBA ainda não tenha sido publicado, sabe-se que, além dos detalhes contratuais e financeiros, o acordo reflete o poder atual dos atletas ao prever a possibilidade de eles serem proprietários minoritários de franquias da própria NBA, além de investidores em empresas de apostas esportivas.

Esse ponto certamente gerará bastante controvérsia e, no rol das polêmicas, deverá deixar em segundo plano, inclusive, o fato de a cannabis não ser mais uma substância considerada proibida pela liga.

Apesar de contar com personagens fascinantes e poderosos também nos bastidores, como  Bob Myers, que se desligou do Golden State Warriors, a NBA, mais do que nunca, abraça a influência de seus atletas, reconhecendo-os como protagonistas da nova economia do esporte.

Que venha a próxima temporada da liga que não para!

Crédito imagem: Tom Szczerbowski/Getty Images

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